sábado, 3 de outubro de 2015

No IX CBA, Grupo Carta de Belém questiona a eficácia de processos de adaptação e mitigação que ameaçam territórios e seus povos.


Manifesto sobre o Papel da Agroecologia nas Negociações sobre Mudanças Climáticas em Paris (COP 21)
               
Diante da divulgação das Contribuições Intencionais Nacionalmente Determinadas (INDCs, na sigla em inglês), divulgadas em 26 de setembro de 2015 pela Presidente Dilma, durante a Assembleia Geral da ONU,  e do que esta contribuição significará tanto para as políticas públicas ambientais, como para o papel da agroecologia para o equilíbrio do clima, limitando o aumento da temperatura, afirmamos nossa preocupação de que a agroecologia seja incorporada como mecanismo de adaptação e mitigação nas negociações do clima sem levar em conta sua proposta central de transição para um modelo de desenvolvimento que prioriza o direito à terrae território, o direito à alimentação saudável com diversidade e sem a utilização de agrotóxicos, bem como a garantia de justiça socioambiental.
Preocupa-nos, especialmente, a incorporação da agroecologia como conjunto de técnicas que sejam instrumento de realização de mecanismos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD+) como indicado pelo Ministério do Meio Ambiente. Quando os meios de implementação de tais mecanismos são majoritariamente advindos do mercado financeiro ou de atores ligados aos setores produtivos geradores das mesmas emissões de carbono e causadores de degradação que se pretende evitar ou erradicar.
Da mesma forma, atentos para o lançamento para a consulta pública do Plano Nacional de Adaptação na próxima semana, chamamos atenção que a agroecologia está sim ligada a mecanismos e tecnologias sociais e ambientais de adaptação, mas que a incorporação da mesma em planos e políticas públicas para lidar ou frear ou aquecimento global não pode se restringir ou se limitar aos movimentos de institucionalização legislativa e operativa para o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), que admitem a compensação na forma da restauração e recuperação com o plantio de monocultivos e com a intensificação das áreas de utilização do agronegócio.
Por esses motivos, a aceitação ou não de práticas e políticas públicas que abrem as possibilidades e oportunidades de regularização ambiental, bem como de outros processos políticos ligados a institucionalização dos mecanismos de PSA e REDD+ por meio da flexibilização e recodificação da legislação ambiental, em antecedência à garantia de direitos fundiários não são meras discordâncias instauradas em relação à eficácia da economia verde que precisam ser superadas para que reduzamos o aquecimento global. Trata-se, outrossim, de questionar a eficácia de processos de adaptação e mitigação para geração de reais mudanças no modelo de desenvolvimento que avança e ameaça os territórios e o bem estar da população em geral e que pode, se não houver disputa, apropriar-se da agroecologia apenas enquanto técnica para se adaptar às mudanças climáticas.


Belém, 01 de outubro de 2015

Saiba mais sobre o Grupo Carta de Belém:
Somos organizações e movimentos sócio-ambientais, trabalhadores e trabalhadoras da agricultura familiar e camponesa, agroextrativistas, quilombolas, organizações de mulheres, organizações populares urbanas, pescadores, estudantes, povos e comunidades tradicionais e povos originários que compartilham a luta contra o desmatamento e por justiça ambiental na Amazônia e no Brasil. Reunimos-nos no seminário “Clima e Floresta – REDD e mecanismos de mercado como solução para a Amazônia?”, realizado em Belém em 02 e 03 de outubro de 2009, para analisarmos as propostas em curso de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) para a região à luz de nossas experiências sobre as políticas e programas implementados na região nas últimas décadas. Nesta Carta vimos a público manifestar nossa reivindicação que o governo brasileiro rejeite a utilização do REDD como mecanismo de mercado de carbono e que o mesmo não seja aceito como compensação às emissões dos países do Norte.

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