sábado, 27 de outubro de 2012

Feira de Produtos Orgânicos de Belém do Pará- todo sábado

Hoje a Feira de Orgânicos estava uma beleza. Bem diversificada, com produtos das camponesas e camponeses do Nordeste Paraense. Ovos de galinha caipira, mel, gergelim, óleo de andiroba e de copaíba, mel com gengibre, alcoolatria, feijão manteguinha, ervas medicinais, várias frutas, as laranjas orgânicas de Capitão Poço...Fiz a festa.


Vejam o calendário abaixo para os próximos meses de 2012:

Feira de Produtos Orgânicos de Belém do Pará
Horário: de 7:00 às 12:00 horas
Calendário 2012 -aos sábados

MÊS
Praça Batista Campos
Praça Brasil

DIA
DIA
Novembro
3, 17
10, 24
Dezembro
1, 15
8, 22


As fotos são de produtos da Rede Bragantina de Artes e Sabores. Já as verduras (rúcula e alface) são de um casal de camponeses de Benevides/PA.

Fotos: Vânia Carvalho

Absurdo - Prisão preventiva para frei Gilvander por denunciar uso indiscriminado de agrotóxicos


Por Robson Flávio

Frei Gilvander Luís Moreira, padre da Ordem dos Carmelitas, militante dos direitos humanos, assessor da Comissão Pastoral da Terra, conselheiro do Conselho Estadual de Direitos Humanos – CONEDH/MG – apoiador e articulador dos movimentos sociais populares, dentre os diversos trabalhos que vem realizando em Minas Gerais na defesa dos pobres e, sobretudo da vida com dignidade, divulgou no em seu site (Galeria de vídeos) um vídeo que denuncia o excesso de veneno em feijão no município de Unaí, Noroeste de Minas Gerais, Brasil.

Frei Gilvander escutou a denúncia e colheu algumas informações de usuários da marca Feijão Unaí utilizando-se do direito da livre manifestação, do direito a informação e atendeu ao apelo da Campanha da Fraternidade 2011: “Fraternidade e Saúde Pública”, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB.

É de conhecimento público que o uso indiscriminado de agrotóxicos, no meio popular rural chamado de veneno, se tornou objeto de inúmeras reportagens, pesquisas científicas e documentários, tendo causado grandes problemas para a saúde de muita gente, inclusive com comprovação científica de ser uma das causas do vertiginoso número de pessoas com câncer no Brasil. Cf. o Filme-Documentário O VENENO ESTÁ NA MESA, do cineasta Sílvio Tendler, também disponibilizado na internet, no youtube.

A matéria do vídeo divulgado traz uma grande preocupação com a saúde das pessoas que vivem na região de Unaí pelo excesso de utilização de veneno nos alimentos, entre os quais, o feijão. O vídeo fala do feijão que foi enviado para a merenda escolar de uma determinada escola e que as cozinheiras ao iniciaram o preparo do feijão não suportaram o mau cheiro e os sinais de veneno contidos no feijão, chegando, inclusive a passarem mal. Que este processo vem se repetindo, chegando ao ponto de até já ter que jogar o feijão fora e que este feijão tem a marca “feijão Unaí”.

Um Relatório da Câmara dos Deputados afirma que “A incidência de câncer em regiões produtoras de Minas Gerais, que usam intensamente agrotóxicos em patamares bem acima das médias nacional e mundial, sugere uma relação estreita entre essa moléstia e a presença de agrotóxico’ .

Em Minas Gerais , justamente na cidade de Unaí, está sendo construído um Hospital do Câncer, pela malsinada ocorrência volumosa desta doença na região Noroeste de Minas Gerais.

Segundo os dados apresentados na Ausculta Pública que foi realizada em UNAÍ pela Comissão Parlamentar, revelaram no documento da CAMARA FEDERAL, que já estão ocorrendo cerca de 1.260 casos/ano/100.000 por habitantes. A média mundial não ultrapassa 400 casos/ano/100.000 pessoas.” Ou seja, se não houver uma redução drástica no uso de agrotóxico, daqui a 10 anos, poderá ter na região noroeste atendidos na cidade de Unaí, mais de 12.600 pessoas com câncer, sem contar o grande número de pessoas que já contraíram essa moléstia grave.

Nesse sentido, se observar bem a narrativa do vídeo apresentado por Frei Gilvander, há apenas depoimentos de consumidores da marca Feijão Unaí revelando o mau cheiro no feijão característico de uso de agrotóxicos. Não há uma narrativa de cunho difamatório, senão apenas informativa em que pessoas dizem sua opinião e o que pensam sobre o dito feijão.

Porque foi dito isso na entrevista e apresentada a marca do feijão, a Empresa responsável/proprietária do Feijão Unaí não só processou o Frei Gilvander e os responsáveis do Google e Yootube, como o juiz de Unaí, do Juizado Especial Cível, responsável pelo processo, decretou a prisão preventiva de Frei Gilvander, caso não seja retirado o vídeo da internet dentro de cinco dias.

O Estado democrático de direito em que vivemos nos garante o direito de livre expressão e de informação, assim como o sagrado direito a saúde. Um vídeo como este que pretende alertar as pessoas para o cuidado com o veneno nos alimentos, chegou ao cúmulo de se transformar em um processo no qual a empresa alega ter sofrido “danos materiais” e “danos morais”, de haver sido vítima de “difamação” e para completar, o juiz cível decreta a prisão do frei e dos diretores do Google e do youtube, que, inclusive, já apresentaram defesa dizendo que no vídeo não nada de ilícito, que o vídeo se trata de reportagem, de informação, o que está assegurado pelas leis brasileiras. Por isso o Youtube nem frei Gilvander não retiraram o vídeo do ar.

Conclamamos apoio e ampla divulgação desse Manifesto, considerando que tal processo e decisão judicial é uma ofensa ao Estado democrático de direito, uma violação do direito fundamental de livre manifestação e de informação, assim como uma ameaça à saúde pública visto que o vídeo é um importante alerta não só para as pessoas que vivem na região de Unaí, MG, mas para toda a população brasileira.

E, se você julgar pertinente, acrescente seu nome ou o nome de seu movimento/entidade na lista, abaixo, e socialize, compartilhe com outras pessoas para que se fortaleça a Campanha Permanente contra os agrotóxicos e por alimentação saudável, sem criminalização de quem defende os direitos humanos.

Assinam esse Manifesto:

Comissão dos Direitos Humanos da OAB/MG
Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH
Conselho Estadual dos Direitos Humanos de Minas Gerais – CONEDH
Brigadas Populares
CUT-MG – Central Única dos Trabalhadores
SINDUTE-MG
SINDIELETRO-MG
MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MG
Comissão Pastoral da Terra – CPT/MG
SINDPOL/MG – Sindicato dos Servidores da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais
MLB – Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas
AGB – Associação dos Geógrafos Brasileiros
MTD – Movimento dos Trabalhadores Desempregados
SINDÁGUA-MG
PSOL-MG
Prof. José Luiz Quadros de Magalhães, Dr. Direito Constitucional, prof. UFMG E PUC-MINAS
Patrus Ananias, ex-Ministro do Ministério do Desenvolvimento Social
Deputado Federal Padre João Carlos, da Subcomissão Especial sobre o Uso dos Agrotóxicos e suas Consequências à Saúde na Câmara dos Deputados
Willian Santos, presidente da Comissão dos Direitos Humanos da OAB-MG
Grupo de amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania
Centro de Cooperação Comunitária Casa Palmares
Rede de apoio e solidariedade as ocupações
Conselho da Comunidade na Execução Penal de Belo Horizonte
Comunidade Dandara
RENAP – Rede Nacional de Advogados Populares
IPDMS – Instituto de Pesquisa, Direito e Movimentos Sociais, MG
Programa Pólos de Cidadania da UFMG
Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais
MOCECO
Comissão de Meio ambiente do bairro Havaí e Adjacências
Ana Maria Turolla
Vereador Adriano Ventura – Partido dos Trabalhadores/BH
RECID – Rede de Educação Cidadã, MG
Fórum Mineiro de Direitos Humanos
Osmar Resende – Libertos Comunicação (Movimento LGBT)
Mídia, Comunicação e Direitos Humanos
Instituto de Direitos Humanos – IDH
Fórum Mineiro de Direitos Humanos
Comitê Estadual de Educação e Direitos Humanos – COMEDH
Belo Horizonte, MG, Brasil, 25 de outubro de 2012.
Enviado por Fernanda A. Nagem 

Na Paraíba, agricultora morre vítima de agrotóxicos


Após trabalhar nos plantios de tomate no interior paraibano, mantendo contato direto e intensivo com agrotóxicos, a jovem agricultora Rosália Barbosa de Souza, de 23 anos, grávida e mãe de mais dois filhos, foi vítima de Aplasia Medular
Patrícia Ribeiro – Comunicadora popular da ASA, Campina Grande – Paraíba
A agricultora Rosália Barbosa de Souza, de 23 anos, morreu no último dia 18 de julho, vítima da doença Aplasia Medular, adquirida após trabalhar por anos no cultivo de tomate em lavouras na região de Cubati, no estado da Paraíba. Grávida, ela manteve contato direto com agrotóxicos e foi vítima de Aplasia Medular, uma doença autoimune que resulta numa anemia profunda comprometendo todos os tipos de células do sangue. O bebê foi salvo por médicos que a acompanhavam no Instituto Materno Infantil (IMIP), no Recife (PE), após indução de parto prematuro.
O pai da agricultora, o senhor Damião Barbosa de Souza, conta que ela apresentou manchas na pele e sangramento na gengiva quando estava grávida do seu terceiro filho. “Ela trabalhou na plantação de tomate e ainda chegou a apanhar tomate. O marido dela também trabalha. Era ela que lavava a roupa dele quando ele chegava. Tudo isso é contato, né? Quando ela ia lavar roupa, chegava a sair aquela água diferente do veneno. Devido ela estar amamentando também, e depois ter engravidado, a imunidade estava baixa, aí ficou mais fácil pra doença”, relatou.
Após seis meses de gravidez, com o estado de saúde agravado, Rosália foi transferida para o IMIP, onde ficou internada e foi submetida a exames. No laudo médico consta como causa da morte Hemorragia pulmonar e aplasia de medula óssea.
“O momento da gravidez é um momento delicado quando o corpo da mulher engendra um enorme esforço para gerar e nutrir um novo ser. A medula óssea é demandada a produzir mais sangue, tanto que é muito comum que as mulheres apresentem anemia leve neste momento. Passa a ser um momento então que a medula estaria mais vulnerável a agressões externas o que poderia ter contribuído para a doença. Por outro lado, os agrotóxicos podem gerar más-formações e até morte do feto”, contou a professora do curso de medicina da Universidade Federal de Campina Grande em Cajazeiras (UFCG/PB), Ana Carolina de Souza Peiretti.
Ainda segundo a docente, a doença faz com que as defesas do corpo passem a atacar as células da medula óssea onde o sangue é produzido. Além do uso de agrotóxicos, medicamentos, radiação, vírus, drogas e agentes químicos também podem causar a toxidade medular.
O companheiro de Rosália, o agricultor Marizaldo Pereira Alves, conta que apesar do nascimento prematuro e das adversidades da gestação, a criança está bem e não apresenta nenhuma complicação.
Iniciativas de enfrentamento
Desde abril de 2011, quando foi lançada a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, movimentos sociais, grupos ambientais e demais organizações tem desenvolvido inúmeras ações de conscientização, enfrentamento e denúncia contra 07 empresas multinacionais, que controlam mais de 70% do mercado de agrotóxicos no Brasil (Monsanto, Syngenta, Bayer, Novartis, Dupont, Basf e Dow), as quais estão diretamente ligadas ao grupo da bancada ruralista no senado.
Embora as ações se depararem com a omissão, negligência e mesmo a conivência do Estado, os movimentos sociais ainda enfrentam o silêncio das grandes mídias sobre questões relacionadas ao problema do uso intensivo e indiscriminado dos defensivos químicos.
O Brasil atualmente é o campeão mundial no uso de agrotóxicos. Por ano, cada brasileiro consome cerca de 5 litros de agrotóxicos. Em consequência desse consumo absurdo de veneno, milhões de pessoas adquirem câncer e morrem anualmente, sem nenhum tipo de repercussão no noticiário da grande mídia.
Além disso, na maioria dos casos de morte em consequência dessas doenças, mesmo com a comprovação de exames clínicos, profissionais de saúde se negam a atestar nos laudos médicos a causa da morte como consequência do uso de agrotóxicos. Recentemente a Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO) lançou o dossiê “Um alerta sobre os impactos dos Agrotóxicos na Saúde”, o qual confirma através de evidências científicas diversas doenças resultantes da exposição, contato, uso e consumo de componentes químicos encontrados em diversos grupos de agrotóxicos consumidos no país.
Avanço do agronegócio na região semiárida da Paraíba
A comunidade rural Prainha, do município de Cubati, localizado a 66,5 km de João Pessoa (PB), ainda é caracterizada pela resistência da agricultura familiar. Pequenas propriedades rurais tentam sobreviver em meio à falta de incentivos dos poderes públicos, o que na maioria das vezes força os agricultores e agricultoras a se submeterem as pressões do agronegócio.
Trabalho informal, baixa remuneração e falta de segurança são algumas das dificuldades enfrentadas. Os agricultores e agricultoras trabalham semanalmente, ou de acordo com o período da produção nas plantações de tomate e na mineração. Embora sejam proprietários de terra, ainda assim, são obrigados (pela necessidade financeira) a arrendar suas propriedades para a monocultura à base de agrotóxicos.
Para além do caso de Rosália Barbosa de Souza, que veio a óbito por ter mantido contato permanente com os agrotóxicos enquanto trabalhava na produção de tomate, o descaso do poder público sobre as questões dos direitos trabalhistas vem ocorrendo com frequência em todo o estado. É recorrente os casos de irregularidades jurídicas, exploração, trabalho infantil, acidentes, falta de equipamento de proteção e negligência dos direitos trabalhistas.
Nos casos de arrendamentos de terras, além dos riscos à saúde da terra e das pessoas que permanecem residindo próximas aos plantios, a contratação é feita sem nenhuma segurança, não existe nenhum tipo de documentação ou registro do contrato. Do plantio à colheita, a família fica impedida de, até mesmo, entrar na área cultivada. Ao fim da colheita, após quatro meses, o proprietário da terra recebe a quantia de R$ 1.000,00 (um mil reais) por cada hectare arrendado.
O período de colheita dos tomates envolve toda a comunidade no trabalho. Homens, mulheres, adultos, jovens e crianças são levadas às plantações e recebem, ao fim do dia, cerca de R$ 25,00 pela diária de trabalho.
A mãe da jovem Rosália Barbosa, dona Maria de Sueli Lima Souza, comenta revoltada que mesmo após a morte de Rosália, um de seus filhos continua insistentemente trabalhando nas plantações de tomate. “Eu estou com um menino com o mesmo problema, trabalhando dentro da tomate. Eu já pedi, o pai já pediu pra ele sair, porque eles trabalham sem proteção nenhuma, mas ele não quer atender a gente. Diz que é o ganho que tem, que não pode sair”, revelou.
De acordo com a professora de medicina da UFCG em Cajazeiras/PB, Ana Carolina de Souza Pieretti, aparentemente, este não tem sido um tema de preocupação do Conselho Federal de Medicina. “O órgão que mais tem tomado à frente nestas discussões tem sido a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas ainda apresenta dificuldade em refrear o uso de agrotóxicos pelo grande poder econômico, tanto das empresas produtoras quando do agronegócio”, disse. Na opinião da docente deve haver mais estudos e uma regulamentação mais forte, além da discussão na sociedade de que modelo de produção agrícola é bom para a saúde das pessoas.
Movimentos e organizações sociais ligadas à agricultura familiar camponesa lutam contra o avanço do modelo de desenvolvimento do agronegócio na região semiárida do país. No entanto, a luta ainda é bastante desigual, e se torna inviável garantir o enfrentamento apenas com ações de acompanhamento e assistência técnica às famílias agricultoras. É o que aponta a representante da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), Maria da Glória Batista. “Temos trabalhado com a disseminação de iniciativas, dos cultivos, da criação de animais integrada e valorizando a biodiversidade local no desenvolvimento do semiárido com base na agroecologia, a exemplo do resgate das sementes nativas, dos animais nativos e adaptados, da recuperação, conservação e manejo da biodiversidade local”.
Dessa forma, as manifestações populares tem se tornado um instrumento de enfrentamento com capacidade de chamar a atenção dos poderes públicos e da sociedade, sobre os principais problemas enfrentados no campo. Nesse sentido, as organizações e movimentos sociais cumprem com o papel significativo no processo de articulação e conscientização política. Maria da Glória, acrescenta, ainda, que do ponto de vista político, vem sendo feito um trabalho junto às organizações, com a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, e demais campanhas contra qualquer iniciativa voltada para o agronegócio. “Um desafio que surge para todas as organizações desse campo, não só para a ASA, é articular, buscar diálogos e convergências junto às organizações para o enfrentamento ao agronegócio de forma coletiva”, concluiu.
Enviado por Tania Pacheco ,

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Vazamento de Agrotóxico Causa Crime Ambiental no Norte do Espírito Santo


O fato faz parte de série de crimes ocorridos em vários municípios do estado em decorrência da utilização dos agrotóxicos na agricultura
O Espírito Santo é palco de mais um crime ambiental provocado pelo uso de agrotóxicos na agricultura. O fato ocorreu no início da semana passada (15/10), na comunidade de São João Bosco, município de Jaguaré, norte do estado, quando o agricultor, conhecido como Seu Ratinho, injetava veneno na irrigação para pulverizar seu cafezal. Ao desligar a bomba, a bóia que controlava a saída do veneno parou de funcionar, o que provocou o vazamento de todo o agrotóxico no córrego 16, contaminando a água e o solo da região.
O córrego 16 deságua no Jundiá, riacho que alimenta a represa de Jundiá, a principal fonte de abastecimento de água da cidade. A água do córrego é utilizada para a alimentação humana e animal, além de servir para irrigar as plantações dos agricultores.
O veneno que contaminou o córrego é o endolsulfan, considerado altamente tóxico e associado a problemas reprodutivos e do sistema endócrino, banido em 45 países. Em 2011, ele ficou proibido de ser importado pelo Brasil, pois fazia parte de uma lista de 14 agrotóxicos submetidos à reavaliação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por causa das suspeitas de associação com problemas graves de saúde. Entretanto, ainda é utilizado nos cultivos de cacau, café, cana-de-açúcar e soja. A partir de 2013, o agrotóxico não poderá mais ser comercializado e usado no país.
De acordo com relatos de camponeses, foram encontrados nas margens dos córregos milhares de peixes que morreram envenenados por conta da contaminação da água. Eles ainda relatam que as aves que se alimentam dos peixes também estão se contaminando e morrendo. “Ninguém agüenta o fedor, dá para sentir o cheiro de longe”, afirmou um camponês da região, que preferiu não se identificar.
O camponês estava preparando uma horta aos arredores de sua casa e teve que utilizar a água de seu poço para fazer a irrigação. “Se eu dependesse apenas da água do rio, minhas hortaliças não iam se desenvolver e minha família ia ficar sem alimentos”, denunciou.  Entretanto, afirma que muitas famílias ainda dependem do córrego e estão correndo o risco de ingerir venenos.
O Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) esteve no local e colheu amostras da água do riacho para fazer análises. Até o momento ainda não se posicionou sobre o ocorrido. 
Outros casos
O crime ambiental realizado em Jaguaré faz parte de uma série de acontecimentos ocorridos em vários municípios do estado em decorrência da utilização dos agrotóxicos na agricultura, em especial por seu uso através de pulverização aérea. Pátios de escolas, praças e propriedades de famílias camponesas que não utilizam agrotóxico na produção de alimentos, já foram atingidas e prejudicadas pelo veneno.
Em 2008, uma escola rural no município de Vila Valério, noroeste do estado, foi contaminada por agrotóxicos por um avião que fazia pulverização aérea na região. O fato ganhou grande repercussão, levando o Ministério Público a investigar o caso e determinar a suspensão das aplicações de veneno por dois anos, além da criação de uma lei municipal em 2011 proibindo a atividade na região.
Outro caso emblemático ocorreu com uma representante do Conselho de Segurança Alimentar (Consea-ES), quando visitava a região de Pedro Canário, no momento em que uma aeronave passava pulverizando agrotóxicos na região. O agrotóxico entrou pelo sistema de refrigeração do carro, atingindo todas as pessoas que estavam em seu interior, em especial, a conselheira, que teve intoxicação grave, chegando até a perder cabelo e ficar com a saúde fragilizada.
Segundo os camponeses, os aviões que fazem as pulverizações voam muito baixo e não desligam os jatos de venenos quando saem das áreas pulverizadas, atingindo toda a área por onde sobrevoam.
De acordo com o integrante do Comitê Estadual da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e Pela Vida, o camponês Valmir Noventa, existe uma falsa idéia de que a pulverização aérea é uma forma segura de utilização dos agrotóxicos e que deveria substituir a forma convencional utilizada pelos agricultores. Ele alerta que grande parte do agrotóxico pulverizado pelo avião não é absorvido pelas plantações, devido a força dos ventos, que leva o veneno para outras áreas, plantações e até cidades, contaminando o ar, solo e rios.  “Não existe forma segura de utilizar os venenos, isso é um mito. A única forma segura de se lidar com os agrotóxicos é parando de fazer o seu uso”, afirma o camponês.
Por trás desse discurso, alerta Valmir, estão os interesses dos grandes fazendeiros da região, que querem justificar a pulverização aérea para ampliar ainda mais os lucros com a produção de café. “É o poder econômico que insiste em passar por cima da saúde e da vida dos trabalhadores e trabalhadoras, das comunidades rurais diretamente atingidas e da saúde dos consumidores”, denunciou.
Para Valmir, esses fazendeiros representam a lógica do agronegócio, um modelo de produção baseado na monocultura, na concentração de terras, uso de máquinas pesadas, transgênicos e altas quantidades de venenos para garantir uma produção em escala industrial para exportação de commodities. Segundo o camponês está na ordem do dia discutir alternativas de produção à esse modelo. “Já existem várias experiências concretas de milhares de camponeses pelo Brasil que adotam a agroecologia. Somente este modelo é capaz de produzir alimentos saudáveis, com respeito ao meio ambiente e com produtividade suficiente para alimentar a população”, defende.
Corrida Desenvolvimentista
O município de Jaguaré, localizado a 202km de Vitória-ES, tem como principal atividade econômica a cafeicultura. O modelo de produção é baseado predominantemente na pequena propriedade, mas segue a lógica do agronegócio, com foco na monocultura e no uso intensivo de venenos.
A produção chega a alcançar 160 sacas de 60kg de café por hectare, o que levou o município durante muitos anos a alcançar o topo do ranking de maior produtor mundial de café conilon robusta. A economia cafeicultora recebe fortes incentivos do estado, que chega a oferecer prêmios para quem produzir mais por hectare.
Por conta dessa produção, o município passou a liderar também o ranking de maior consumidor de agrotóxicos do estado, com o maior índice de pulverização aérea. Só no centro da cidade, os agricultores podem encontrar cerca de oito lojas que comercializam agrotóxicos.
Entretanto, no ano passado mesmo com os incentivos do poder público, Jaguaré perdeu a liderança mundial para o município vizinho, Vila Valério. Insatisfeitos com a colocação, fazendeiros, poder público local e comerciantes de agrotóxicos da cidade, estão promovendo uma campanha ideológica para convencer os camponeses a se dedicarem ainda mais a produção do café. “É trabalhado o tempo todo na cabeça das pessoas que plantar culturas alimentares é um atraso, não faz o município crescer, quem não entra nessa lógica de produção é considerado fora de moda”, afirmou o camponês Adalto Togenere, que trabalha com café, mas que busca diversificar a produção com outros cultivos.
Adalto foge da lógica de produção local da maioria dos agricultores da região, que ficam reféns da falta de investimentos do poder público na agricultura camponesa e acabam se submetendo às pressões do agronegócio. “Antigamente o município praticava uma agricultura com café, milho, feijão, arroz... isso aos poucos foi mudando e se tornado praticamente só café”, lamentou.
Atraídos pela possibilidade de ganhar muito dinheiro com a produção do café, milhares de famílias camponesas do sul da Bahia, norte de Minas e de outras regiões do Espírito Santo, passaram a trabalhar durante o período da colheita do café na região, para receber até 200 reais a diária, com uma carga horária de trabalho de mais de 10 horas por dia.
Ao final da colheita, alguns voltam paras suas terras e outros ficam no município, para trabalhar na poda e desbrota do café, entretanto, recebendo um valor menor pelo trabalho e se submetendo ao contato direto com os agrotóxicos, passando a se instalar em áreas de periferia da cidade, sem condições de moradia digna e serviços públicos de qualidade.
Campanha mobiliza vários setores da sociedade contra o uso dos agrotóxicos
Movimentos sociais do campo e da cidade, organizações ambientais, universidades e institutos de pesquisas, estudantes, trabalhadores urbanos e camponeses, tem se mobilizado em todo o país naCampanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida com o objetivo de sensibilizar a população brasileira para os riscos que os agrotóxicos representam.
As atividades da campanha, que iniciaram em abril de 2011, se concentram em ações de conscientização, enfrentamento e denúncia contra sete empresas multinacionais - Monsanto, Syngenta, Bayer, Novartis, Dupont, Basf e Dow-, controladoras de mais de 70% do mercado de agrotóxicos no Brasil. 
Essas empresas tem forte relação com a bancada ruralista do senado e da câmara, que pressionam todo o conjunto do congresso a criarem leis, e os governos a implementarem políticas de incentivo ao agronegócio e a liberação do uso dos venenos na agricultura. 
Desde 2008, o Brasil atingiu a marca de maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Cada brasileiro consome em média cerca de 5 litros de agrotóxicos por ano, causando vários riscos a sua saúde. De acordo com a Campanha, os ingredientes ativos presentes nos agrotóxicos podem causar esterilidade masculina, formação de cataratas, evidências de mutagenicidade, reações alérgicas, distúrbios neurológicos, respiratórios, cardíacos, pulmonares, no sistema imunológico e no sistema endócrino, ou seja, na produção de hormônios, desenvolvimento de câncer, dentre outros agravos à saúde. Para as organizações que integram a campanha, o uso de agrotóxicos está deixando de ser uma questão relacionada especificamente à produção agrícola e se transformando em um problema de saúde pública e preservação da natureza.
Como parte das atividades de mobilização, a campanha está coletando assinaturas para o abaixo-assinado que exige o banimento, pelo governo brasileiro, de toda importação, produção e comercialização de 14 agrotóxicos e substâncias já proibidas em vários países do exterior. 
Produzido pela Comunicação do MPA

Justiça ambiental une ativismo e economia ecológica



O Centro de Estudos da ENSP de 24 de outubro trouxe, da Espanha, Joan Martínez Alier, especialista em Ecologia Política e Economia Ecológica da Universidade Autônoma de Barcelona. Em sua exposição, Alier explicou a diferença entre os conceitos de ecologia política e economia ecológica e apresentou um panorama da situação dos conflitos ambientais pelo mundo. Além disso, abordou o projeto internacional Environmental Justice Organizations, Liability and Trade (Ejolt), que analisa conflitos ambientais relacionados ao comércio internacional e apoia organizações de justiça ambiental. A ENSP/Fiocruz também faz parte do Ejolt.
Joan Alier explicou, no início de sua exposição, que a economia ecológica é um campo de estudos transdisciplinar que busca captar a relação entre a economia com os processos ecológicos e sociais, como metabolismo social e perfil metabólico, inter-relacionando os fluxos econômicos com os de materiais e energia, e produzindo indicadores e índices de (in)sustentabilidade. A ecologia política, por sua vez, aborda as questões ecológicas e os conflitos socioambientais a partir de dinâmicas econômicas e de poder que caracterizam as sociedades modernas.
Em seguida, o expositor abordou o ‘ecologismo dos pobres e indígenas’, expressão relacionada ao movimento por justiça ambiental e contra o racismo ambiental, em defesa dos povos indígenas e tradicionais contra os grandes projetos e das comunidades urbanas contra possíveis especulações imobiliárias. No Brasil, exemplos citados por Alier incluem barragens e represas de rios, extrativismo mineral e conflitos de terra para expansão do plantio de soja. Os mesmos tipos de conflitos, acrescetou, ocorrem em países como México e Colômbia.
Alier apresentou, em seguida, o Ejolt. Composto por diversas instituições pelo mundo, o projeto atua por meio da análise e enfrentamento de conflitos ambientais ou em casos de injustiça ambiental. A ENSP/Fiocruz faz parte do Ejolt, por meio do trabalho do pesquisador do Cesteh/ENSP Marcelo Firpo. O referencial teórico do Ejolt é o da ecologia política, que analisa criticamente os efeitos de um comércio internacional injusto e insustentável em tempos de globalização econômica. O pesquisador explicou que são cada vez maiores os conflitos ambientais pelo mundo por conta do que ele chamou de metabolismo social. “Países como a China, a Índia ou os Estados Unidos são grandes importadores líquidos de energia e materiais. Tais importações para os países ricos necessariamente precisam ser mais ou menos baratas para que o seu metabolismo social funcione de forma adequada. O custo energético para se obter energia no mundo está crescendo e afetando, cada vez mais, a economia mundial. Esse é um problema que deve ser trabalhado por meio da economia ecológica”, explicou.
O expositor ressaltou ainda a importância do Mapa de Conflitos envolvendo injustiça ambiental e saúde no Brasil, desenvolvido a partir de uma parceria entre a ENSP/Fiocruz e a ONG Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), que permite o monitoramento de ações e projetos que enfrentem situações de injustiças ambientais relacionadas à saúde em diferentes territórios e populações das cidades, campos, florestas e zonas costeiras. E afirmou: “Os movimentos de justiça ambiental são a maior força para uma economia mais sustentável”.
http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/materia/detalhe/31250

Nova Feira Agroecológica em Belém do Pará- na Rua Municipalidade, entre D. Pedro I e D. Romualdo de Seixas




Esta Feira vai acontecer toda semana.
A próxima será dia 1 de novembro, por causa do feriado.
Os produtos são de camponeses dos Assentamentos Expedito Ribeiro e Abril Vermelho, situados na vila Pau D' arco, estrada de Mosqueiro.
Enviado por Solange Aparecida


  
Tabela de Preço - HORTALIÇAS & FRUTAS
PRODUTOVALOR
Abacate - KgR$            4,00
Abacaxi – unid.R$            3,00
Abóbora - kgR$            1,50
Alface (Maço)R$            2,00
Banana chifre do Boi - Unid.R$            1,00
Banana da Terra - Unid.R$            1,00
Banana Prata - DúziaR$            3,50
CariruR$            1,00
Cebolinha (maço)R$            2,00
Cheiro-VerdeR$            2,00
Chicória (maço)R$            1,50
Couve (maço)R$            2,00
Feijão da colônia - KgR$            3,50
Limão comum - Pct.R$            1,00
Limão Galego - Unid.R$            1,00
Limão Tahiti - Pct.R$            1,00
Macaxeira - kgR$            2,00
Manjerição (maço)R$            2,00
Maxixe - Pct.R$            2,00
MostardaR$            1,50
Rúcula (maço)R$            2,50
UrucumR$            3,00
VagemR$            2,00

Tabela de Preço - VARIEDADES
PRODUTOVALOR
Biscoito olho de Boi - PoteR$   4,00
Castanha de Caju - PctR$   2,50
Doce de Banana - PoteR$   5,00
Doce de Mamão c/ côco - PoteR$   5,00
Galinha CaipiraR$ 25,00
Goma de Tapioca - KgR$   2,50
Ingá - UnidadeR$   0,50
Molho de PimentaR$   3,50
Ovos - Unid.R$   0,50
Pimenta Ardosa - Pct.R$   1,00
Pimentinha TemperoR$   1,50
Tempero com açafrão/verde - PoteR$   5,00
Tucupi – 2 LitrosR$   5,00
Galinha caipira/CaipirãoR$ 25,00





domingo, 21 de outubro de 2012

Agriculturas sem venenos: a Agroecologia aponta o caminho



Por Denis Monteiro*
O campo agroecológico brasileiro, mobilizado na Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), pode contar com apoios importantes na sua luta política para mostrar que a Agroecologia é um caminho promissor para o futuro. Vários estudos, realizados por setores da Organização das Nações Unidas (ONU) e por equipes internacionais de pesquisadores independentes, confirmam que sistemas de produção desenhados e manejados de acordo com os princípios da ciência da Agroecologia têm muitas dimensões positivas: altas produtividades por área, estabilidade e resiliência, ou seja, são capazes de resistir a estresses ambientais, chuvas torrenciais e secas, comuns em nossa época de mudanças climáticas. Estes sistemas conservam a biodiversidade nativa e cultivada, usada livremente pelas comunidades, recuperam os solos, protegem e usam com responsabilidade as águas.
Além disso, geram trabalho digno no campo, democratizam a riqueza gerada pela agricultura e atuam na superação da pobreza rural, pois fortalecem a agricultura familiar camponesa e promovem maior autonomia dos agricultores frente aos mercados, seja de insumos, seja na comercialização da produção.
Os estudos mostram também que experiências construídas seguindo os princípios da Agroecologia promovem circuitos curtos de comercialização de alimentos, com muito mais diversidade do que nos impérios alimentares que empobrecem as dietas e fazem a comida viajar grandes distâncias dos campos até os consumidores. Com a Agroecologia é possível produzir alimentos saudáveis, de alto valor biológico, pois cultivados em agroecossistemas cheios de vida, e livres de agrotóxicos e transgênicos.
As pesquisas fortalecem a riquíssima rede que vem sendo tecida com muita sabedoria, garra e organização por agricultores e agricultoras familiares, assentados da reforma agrária, comunidades quilombolas, indígenas, populações tradicionais de extrativistas, castanheiros, seringueiros, quebradeiras de côco babaçu, faxinalenses, gente dos fundos de pasto, vazanteiros, geraizeiros, catadoras de mangaba, ribeirinhos, pescadores, agricultores urbanos, entre outros povos, e as organizações da sociedade civil e de órgãos governamentais que os apóiam e assessoram. Em nosso sistema de informação “Agroecologia em Rede”  temos mais de 700 experiências coletivas cadastradas, e sabemos que esta é uma mostra pequena do que tem espalhado por este país, em todos os ecossistemas e rincões. Outra mostra muito rica e significativa dessa diversidade está na revista “Agriculturas: experiências em Agroecologia”, editada desde 2004 pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia.
Evidências: enfrentando os mitos
No Rio Grande do Sul, onde o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) trabalha há 12 anos com a produção de arroz ecológico, somente numa região, na safra 2010/2011, foram colhidas 344 mil sacas de arroz ecológico em 3.000 hectares (ha), envolvendo 16 assentamentos de reforma agrária em 11 municípios. Sem nenhuma gota de veneno, usando fertilização orgânica e criando peixes nos campos de arroz.
No Maranhão, sistemas tradicionais de arroz de vazante em assentamentos alcançam produtividade média de 5.840 kg/ha, mais do que o dobro da produtividade da região nordeste, sem o uso de agroquímicos. Alguns agricultores tiveram, em pequenas áreas cultivadas (0,3 a 0,6 ha), produtividade de 14 ton/ha.
Pesquisas com feijão comum (Phaseolus vulgaris) em sistemas agroecológicos com variedades crioulas, desenvolvidas pela Embrapa Arroz e Feijão, em Goiás, apontam uma produtividade 2,4 ton/ha. No Paraná, a produtividade média do feijão em sistemas agroecológicos avançados é de 3 ton/ha.
Também no Paraná, sistemas agroecológicos alcançam a produtividade de 9 ton de milho por hectare, utilizando adubação verde, fertilização com matéria orgânica e pós de rocha, e variedades crioulas.
Estes dados mostram como a produtividade da terra em sistemas agroecológicos é satisfatória, na maioria dos casos superior ao manejo agroquímico, mesmo se considerada apenas uma cultura. Em todos os casos, os custos de produção, com insumos de fora das unidades produtivas, é muito menor nos sistemas agroecológicos do que nos convencionais. Nestes, a tendência é de aumento dos custos de produção e diminuição da produtividade, porque os insumos estão ficando mais caros e porque os agroecosssistemas vão perdendo fertilidade. Como dizem os agricultores, a terra vai ficando fraca, vai cansando. Em sistemas agroecológicos, acontece exatamente o contrário.
Mas os dados levantados acima deixam de fora um aspecto muito importante: sistemas agroecológicos trabalham com diversidade, integração de criação animal e cultivos, policultivos e sistemas agroflorestais, além do agroextrativismo dos frutos nativos.
No Agreste da Paraíba, uma pesquisa identificou 55 etnovariedades de tr?s espécies de feijão: comum, de corda (ou macassa) e fava. Nessa mesma região, a partir de critérios estabelecidos pelos próprios agricultores, as variedades locais de milho se mostraram superiores às variedades comerciais desenvolvidas pela Embrapa, em produção de grãos, de biomassa, sabor, resistência a insetos no campo e no armazenamento, entre outros indicadores. A pesquisa foi desenvolvida pela Embrapa Tabuleiros Costeiros em parceria com organizações locais. Na Paraíba, as variedades locais são conhecidas como Sementes da Paixão.
No semiárido brasileiro, desde 2003 foram adquiridas, via Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), mais de 536 toneladas de sementes de variedades locais, beneficiando 23.000 famílias. Mas o governo federal insiste em distribuir, no Programa Brasil Sem Miséria, sementes de poucas variedades comerciais, não adaptadas às condições ecológicas e socioculturais locais.
Já experiências com uso de plantas medicinais evidenciam quintais rurais e urbanos com mais de cem espécies, somente de uso medicinal. No cerrado, o conhecimento das populações tradicionais é tão vasto que a Articulação Pacari, que reúne grupos do bioma, organizou uma Farmacopeia Popular do Cerrado. No Rio de Janeiro, há mais de 100 grupos de saúde alternativa organizados na Rede Fitovida, que produzem os remédios caseiros com as plantas cultivadas em sítios e quintais. Além de serem usadas para tratamento humano, em farmácias caseiras e comunitárias que tem impactos muito positivos nas comunidades, as plantas tem também uso veterinário e no combate a insetos e fungos das plantações. Estas experiências são conduzidas em sua ampla maioria por grupos de mulheres.
Trabalhos desenvolvidos na zona da mata de Minas Gerais pelos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) e pelo Centro de Tecnologias Alternativas (CTA), nos “mares de morro”, áreas de relevo acidentado, demonstram o potencial dos sistemas agroflorestais (SAF’s) numa região que tem no café o principal cultivo comercial. Num estudo comparativo, o café produziu, em sistema agroquimico, 34,9 sacos/ha, enquanto o agroflorestal produziu 21,2 sacos/ha. No entanto, apesar da produtividade menor, os custos de café agroflorestal foram três vezes mais baixos, e o SAF produziu ainda outras 33 espécies, para auto-consumo e mercado, o que fez com que o saldo econômico do SAF fosse superior ao do café convencional. Os grupos de mulheres da região se organizam para beneficiar a produção e levam os produtos dos quintais e SAF’s, inclusive os de origem animal, para as feiras e mercados da região. Além da motivação econômica, agricultores envolvidos em dinâmicas de intercâmbio optam pelo sistema agroecológico simplesmente porque não querem trabalhar num ambiente com agrotóxicos. Destacam também que a Agroecologia motiva mais a juventude a trabalhar na agricultura.
Estudo feito pela AS-PTA no Paraná em propriedade familiar em estágio avançado na transição agroecológica demonstra que os rendimentos brutos de feijão, milho, arroz e mandioca foram muito superiores aos sistemas convencionais da região e que, mesmo no caso da batata, onde a produção total foi menor, a rentabilidade econômica foi muito maior, em função da maximização dos fluxos de insumos internos aos agroecossistemas e dos menores custos de produção. Isso sem contar na maior diversidade de produção para auto-consumo.
No município de Anita Garibaldi, em Santa Catarina, a Associação de Agricultores Ecologistas promoveu a diversificação da produção das 42 famílias associadas, das quais 20 comercializaram, em 2010, R$ 125 mil via PAA e R$ 80 mil pelo Programa de Alimentação Escolar. Já as famílias feirantes tem uma renda média de R$ 700,00 por semana. Segundo relatam os agricultores, a renda melhorou muito entre os membros da Associação: “Quando só plantávamos milho e feijão tínhamos uma renda muito apertada para passar o ano. Agora temos também a couve, os ovos, o tomate, o leite, o mel e o melado, outras hortaliças… essa renda complementar ajuda muito e esse processo todo educou o agricultor para isso”.
Política: o desafio principal
A Agroecologia, como ciência que aplica os princípios da ecologia para o desenho e manejo de agroecossistemas sustentáveis, e como campo político que tem propostas alternativas concretas para a agricultura e o desenvolvimento rural, tem que enfrentar mitos e construções ideológicas erguidos pelo agronegócio. Este, para legitimar-se na sociedade como único caminho possível, desqualifica o enfoque agroecológico e a agricultura familiar como atrasados e incapazes de alimentar o mundo e promover desenvolvimento.
Justamente o agronegócio, modelo que tem gerado uma crise socioambiental de proporções gigantescas em todo o mundo, com expulsão das populações de seus territórios, desmatamentos, assoreamento de rios e nascentes, erosão e privatização das sementes, queima desenfreada de combustíveis fósseis provocando mudanças climáticas, degradação dos solos e uso massivo de agrotóxicos, agora quer apresentar suas novas propostas para, com “mais do mesmo”, resolver os problemas que ele mesmo causou .
Nos apresentam os transgênicos com a propaganda de que são a solução para a fome no mundo, dizem que é preciso privatizar a água, pois se não haverá escassez, destróem a legislação ambiental para desmatar mais e assim “produzir alimentos para o mundo”, dizem que agrotóxico é necessário para não faltar comida, e que comida deve ser comprada nos hipermercados.
É claro, às corporações que vendem sementes e venenos, aos hipermercados multinacionais, peças essenciais dos impérios alimentares, e aos latifundiários, este modelo convém perfeitamente. Os prejuízos ficam com os setores mais pobres da sociedade, com o povo que é expulso do campo e mora em condições precárias nas cidades, com o trabalhador que morre lentamente com uma bomba de veneno nas costas, com o sistema público de saúde que tem que cuidar do povo doente pelos alimentos e águas contaminados.
Talvez, para o agronegócio, a agroecologia tenha muitos pecados, para usar a excelente expressão de Eric Holt-Gimenez : fortalece a agricultura familiar camponesa, pois democratiza a riqueza gerada na agricultura; diminui a venda de fertilizantes industriais, venenos e sementes transgênicas; exige a reforma agrária, pois não existe agroecologia em latifúndio e monocultivo; ao invés de privatização, promove o uso livre, local, comunitário, democrático, da biodiversidade e das águas; produz alimentos saudáveis melhorando a sáude da população e diminuindo o lucro dos hospitais e das multinacionais do setor farmacêutico; promove circuitos curtos de comercialização de alimentos, contrários aos interesses dos impérios alimentares.
Outro pecado da Agroecologia, muitas vezes apontado por seus críticos, é que ela depende do trabalho de milhões de famílias camponesas, quer um campo com gente, recusa o trabalho alienado, pois exige atenção, cuidado, observação, experimentação, conhecimento profundo dos ecossistemas e respeito à natureza, coisas desconhecidas pela lógica do lucro e da exploração que rege a economia capitalista.
Os principais desafios da Agroecologia, como contraponto ao modelo hegemônico são, portanto, de natureza política. Para enfrentá-los, será necessário muita mobilização e resistência, que sejam fortalecidas e multiplicadas experiências nos territórios, construídas redes solidárias entre o campo e cidade, e que se lute pela democratização do Estado e a construção de políticas públicas capazes de promover a Agroecologia como o enfoque orientador para a agricultura e o meio rural, no Brasil e no mundo.
* Denis Monteiro é Engenheiro Agrônomo, agroecólogo, secretário executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) Texto publicado originalmente no caderno da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida.
http://www.agroecologia.org.br/index.php/noticias/210-agriculturas-sem-venenos-a-agroecologia-aponta-o-caminho