quinta-feira, 31 de maio de 2012

Agroecologia, Economia Solidária e Movimento de Mulheres na Amazônia



BOLETIM DA ANA AMAZÔNIA, maio 2012 - Rossilan Rocha


VII SEMANA DE AGROECOLOGIA – SANTARÉM

O Centro de Apoio a Projetos de Ação Comunitária - CEAPAC em Santarém/Pará realizou no período de 07 a 11/05/2012 a VII Semana de Agroecologia com o Tema: Agroecologia e Mudanças Climáticas. Durante o evento foram realizadas diversas atividades como: Oficinas de Produção de Artesanato; Extração de Óleos Vegetais; Meliponicultura; Feira Agroecológica; Intercambio de Produtores e Atividades Culturais. Além dessas atividades foi realizado o Seminário Economia Verde: Problema Ou Solução, Para Quem?
Ler mais: http://www.ceapac.org.br/
  

CURSO ANÁLISE DA SAÚDE DO SOLO RONDÔNIA

No período de fevereiro a abril de 2012 o Setor Agrícola do Projeto Padre Ezequiel em parceria com o Projeto PAIS (Produção Agroecológica Integrada e Sustentável) capacitaram 200 agricultoras e agricultores em Análise da Saúde do Solo. O Curso Análise da Saúde do Solo é realizado pelo método da cromatografia circular plana criado por Ehrenfried Pfeiffer,
Ler mais: http://www.diocesedejiparana.org.br

ENCONTRO NO MÉXICO

O Programa de Intercambio Diálogo e Assessoria em Agricultura, Agricultura Sustentável e Segurança  Alimentar - PIDAASSA, América Latina e Caribe,  realizou no México (21 a 24.05.2012), o Encontro “Conhecer e intercambiar conceitos, modelos e experiências no contexto da Agricultura Sustentável, Segurança e Soberania Alimentar na Metodologia “Campesino/a a Campesino/a.”
O Encontro contou com a participação do Projeto Mulheres do Campo,  através do Movimento de Mulheres do Nordeste Paraense - MMNEPA e da Associação de Apóio às Comunidades Carentes – APACC.
Ler mais: http://www.pidaassa.org/

SEMINÁRIO EM CAPANEMA

O Movimento de Mulheres do Nordeste Paraense – MMNEPA e o Instituto Eqüit do Rio de Janeiro realizaram no dia 17/05 em Capanema-Pará, o Seminário Preparatório da Cúpula dos Povos Rio+20: Definição das Estratégias e Pactuação da Pauta das Mulheres. Participaram 40 mulheres de vários municípios do Nordeste Paraense, (Mãe do Rio, Capitão Poço, São Domingos do Capim, Nova Timboteua, Irituia, Santa Luzia do Pará, Salinópolis, Capanema, Bragança, Belém, Santa Maria do Pará, Tracuateua e Aurora do Pará) e da Articulação de Mulheres Brasileiras.


ECOSOL MOJU 

O município do Moju realizou a II Feira Municipal Popular de Economia Solidária com a temática ECOSOL: Conviver em Cooperação e Autogestão para um Desenvolvimento Justo e Solidário. A Feira realizou a Oficina Economia Solidária e Autogestão e abriu espaço para exposição e comercialização de produtos agroecológicos da agricultura familiar e ainda houve apresentação de  atividades culturais.





Vejam o Boletim de Maio da ANA AMAZÔNIA, notícias da agroecologia na Amazônia


Boletim ANA AMAZÔNIA Maio 2012
 

REDE DE AGRICULTORES TRADICIONAIS DO AMAZONAS (REATA)
UMA EXPERIÊNCIA AGROECOLÓGICA SUPERANDO DESAFIOS E FAZENDO A DIFERENÇA NA AMAZÔNIA


A REATA teve sua origem em 2005, no município de Presidente Figueiredo-AM. Sua criação se deu em função do desejo de se criar uma organização aberta para agricultores tradicionais[1], que ao mesmo tempo pudesse ser um espaço de capacitação e empoderamento do grupo, a partir de uma proposta de resgatar valores, produzir, gerar e divulgar saberes e conhecimentos sobre o manejo e a preservação dos agro ecossistemas da floresta amazônica, através de processos de comunicação, troca de experiência, aprendizado participativo e extensão rural, visando um estilo de agricultura de base ecológica.
A REATA é composta por agricultores familiares, tradicionais, extrativistas, pescadores, caboclos, ribeirinhos, quilombolas e indígenas do estado do Amazonas. Inicialmente, o grupo era formado por 11 (onze) agricultores de 10 (dez) municípios. Hoje são cerca de 200 famílias de 14 (quatorze) municípios: Tefé, Coari, Codajás, Manacapuru, Manaus, Rio Preto da Eva, Itacoatiara, Maués, Parintins, Presidente Figueiredo, Lábrea, Boca do Acre, Urucará e Silves. Em função das enormes distâncias entre esses municípios, tem-se adotado a estratégia de intercâmbios por núcleos municipais. Além disso, anualmente é promovido um encontro com a participação de todos os membros, em que são abordados temas pertinentes à construção do conhecimento agroecológico, processo participativo, vivência, discussões e reflexões sobre os princípios da Rede e sobre os rumos a serem seguidos. Os encontros também se constituem em momentos de fortalecimento e motivação do grupo, através de troca de conhecimentos, saberes, experiências, sementes e mudas, baseando-se no princípio do “troca-troca”. Além dos intercâmbios em nível municipal, que objetivam manter a interação entre os membros, também são promovidos intercâmbios com agricultores e organizações de outros estados, visando compartilhar conhecimentos e experiências.
Atualmente a Rede conta com o apoio direto do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas-IDAM e da Agência de Cooperação Técnica Alemã-GTZ, além da participação de outras instituições governamentais e não governamentais, sempre com a anuência dos agricultores.


[1] Neste contexto, entende-se Agricultores Tradicionais como aqueles que detêm conhecimentos sobre o manejo da floresta, pois nela vivem e dela retiram o seu sustento, desenvolvendo, portanto, práticas sustentáveis de uso dos recursos naturais.

E mais informes sobre a REATA, dos agroecologistas do Amazonas: REATA IBAM
Enviado por: Rossilan Rocha
Articuladora da ANA Amazônia


Documentário DESORDEM NO PROGRESSO mostra o massacre diário em Altamira/PARÁ, por OTEMPO MULTIMÍDIA

Documentário mostra os impactos da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte na cidade de Altamira, no Pará. Moradores e ativistas lutam contra a construção da barragem e reclamam dos problemas sociais, trabalhistas e ambientais provocados pelo empreendimento. A obra começou a ser erguida em junho de 2011, no rio Xingu, e só ficará pronta em 2019.

Direção : Cristiano Trad

"Acordo global da Eco 92 pode ser quebrado na Rio+20", afirma Via Campesina

28 de maio de 2012


Por José Coutinho Júnior
Da Página do MST



Para Marcelo Durão, da coordenação da Via Campesina Brasil, não há grandes esperanças de que a Rio+20, conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável, consiga propor soluções reais para a crise ambiental que presenciamos hoje.
Cético em relação a conferência oficial, Durão afirma que o agronegócio sairá fortalecido da Rio+20, já que a cúpula propõe as chamadas “falsas soluções”, que vão apenas “dar uma roupagem verde ao capitalismo”. Confira abaixo a entrevista.

O que a Via campesina espera da Rio+20?

Estamos com uma descrença na conferência, pois os acordos que podem sair de lá vão ter um caráter bilateral entre os chefes de estados e as grandes corporações. Por mais que se esteja construindo um evento com uma cara ambiental, as questões principais que serão debatidas também passam pela esfera social, política e econômica. E essas esferas têm suas linhas políticas dadas em outros espaços de decisão, como o G-20, Davos e as reuniões da OMC (Organização Mundial do Comércio), que de certa forma direcionam os acordos da Rio+20.

Os acordos da Conferência vão ter um caráter de liberalização dos acordos coletivos feitos na ECO-92, que faziam uma cobrança coletiva da preservação ambiental em relação aos chefes de Estados do mundo. A ideia é que se flexibilize esses acordos para que cada país cuide agora do seu meio ambiente como lhe couber, construindo sua relação de preservação, de limites de desenvolvimento.

Ou seja, os acordos vêm no sentido de dar aos países essa liberdade para fazer esse controle político, ambiental e até mesmo econômico sobre a questão da natureza e do meio ambiente. Esses tratados e acordos coletivos que temos a nível global podem ser quebrados na Rio+20. Até porque em 20 anos nunca se conseguiu que esses acordos fossem efetivamente cumpridos por todos os países.

Uma das críticas a Rio+20 é que ela está voltada para os interesses das corporações. Por que na construção dessa conferência se adotou este caráter?

O que forçou isso foi a crise econômica de 2008. Órgãos internacionais, como a OMC, a FAO e o Banco Mundial lançaram estudos apontando a mudança do clima e que deveríamos repensar nosso modo de viver. Só que em vez de pensar essas questões concretas sob uma nova forma de desenvolvimento, repensando o modelo econômico e a velocidade de desenvolvimento, apresentou-se alternativas nas quais as corporações são a solução.

À nível global, existe uma diferença entre o dinheiro real e o fictício, então há uma tentativa de aumentar os ganhos dessas grandes empresas. E o viés ambiental se torna uma fonte de renda, por meio de falsas soluções para o meio ambiente, como a Redução por Emissão de Desmatamento (RED)
Essas alternativas só aumentam o acúmulo de capital e concentração da riqueza por parte dessas corporações. Como essas organizações internacionais colocam como solução da crise ambiental a saída pelo mercado, a sociedade civil está de fora da Rio+20.

A discussão sobre a preservação do meio ambiente ganhou mais força com a divulgação de estudos que apontaram o aquecimento global. Quais as propostas da Via Campesina para enfrentar o aquecimento global?

A Via Campesina vem dizendo a muito tempo: o que esfria o clima é a agricultura familiar. A relação que a agricultura familiar tem com a natureza, aliada à implantação do modelo de agroecologia e da Reforma Agrária são questões centrais. Mas não só no Brasil mas também fora, são muito difíceis de serem aceitas pelos governos por baterem de frente com a lógica e o modelo econômico hegemônico.
Mas essa pauta traz condições ambientais mais significativas no sentido da proteção ambiental, de outra relação com a natureza que não seja apenas mercadológica, além da diminuição da poluição, do desmatamento e o fim do uso de agrotóxicos. Nós acreditamos que a agricultura camponesa esfria o planeta. Então, deve se potencializar esse modelo para sair da crise ambiental.

A Via Campesina denuncia que empresas transnacionais e o capital financeiro tem hegemonia sobre a agricultura.

O modelo econômico em que vivemos fortalece muito os grupos financeiros e as transnacionais. A produção agrícola é transformada em commoditie, dentro do sistema financeiro. Nosso enfrentamento é contra esse modelo. Temos de pautar a luta contra o agronegócio, contra os agrotóxicos, construir e difundir a agroecologia como alternativa e mostrar, por meio de ações diretas para a sociedade, que esse modelo polui, degrada e afeta comunidades.

O presidente da Bolívia, Evo Morales, declarou que “todos os países do mundo devem nacionalizar os seus recursos naturais”, pois o controle dos povos sobre a natureza é fundamental para erradicar a pobreza. O que os Estados precisam fazer para retomar o poder sobre seus recursos naturais?

O que a gente percebe é que a relação dos grupos financeiros com as transnacionais afeta a soberania dos povos e dos países na questão do território. Cada vez mais essas corporações têm força para fazer com que a soberania das nações, dos povos e dos Estados sejam fragilizadas.
No Rio, por exemplo, o governo do estado está desapropriando a pequena agricultura na região Norte e está entregando a terra na mão da OGX, do Eike Batista. Esse poder é tanto que o estado age a serviço dessas grandes corporações. Há uma necessidade dos estados e dos movimentos pressionarem para que essa soberania se fortaleça.

Haverá alguma discussão sobre as sementes terminator (que não se reproduzem) na Rio+20? Qual a posição da Via Campesina em relação ao tema?

A proposta da Via é que se mantenha o embargo, que foi importante no mundo inteiro para que essa tecnologia não progrida. Esse debate ronda de novo, com alguns atores brasileiros se movimentando para acabar com o embargo. A Via se posiciona novamente para que se mantenha o embargo em relação às terminator e às sementes transgênicas.

A Via Campesina denuncia o avanço predatório do agronegócio, com seu pacote tecnológico de sementes e agrotóxicos. Essa questão será debatida na Rio+20?

Os debates da conferência têm a intenção de fortalecer este modelo econômico para o campo. Todas essas articulações, como mecanismos de desenvolvimento limpos e a questão da economia verde serão fortalecidas na Rio+20, o que vai afetar a soberania dos povos e das nações, pois se almeja apenas uma manutenção do capitalismo, sem questionar seu funcionamento.
As políticas que vão ser debatidas para o campo na Rio+20 fortalecem o agronegócio e enfraquecem os posicionamentos dos povos tradicionais. A disputa principal que vai se dar é pelo controle dos territórios, entendendo “território” como tudo: terra, água, minérios, florestas, o povo, a capacidade de produzir alimentos.

A Rio+20 espera criar um novo paradigma de desenvolvimento, por meio da “economia verde”. Como a Via Campesina vê esse conceito?

Na verdade, não existe um novo modelo: é o mau e velho capitalismo, travestido de verde. A economia verde é uma falácia, porque não existe "capitalismo verde". O que se apresenta são falsas soluções de mercado para a crise ambiental. Essas falsas soluções vão potencializar os lucros das grandes corporações, empresas e bancos.
"Economia verde" nunca existiu, mas é uma nova roupagem para o capitalismo ser melhor aceito na sociedade. Mas é o mesmo sistema, que agora reconfigura e avança para cima da sociedade e dos povos tradicionais. Esses mecanismos servem apenas para aumentar a acumulação de capital.

Qual a proposta de desenvolvimento da Via Campesina?

Nossa proposta é ter a presença massiva dos povos nas decisões econômicas e na própria construção da economia, o que é muito difícil no período atual. Há também a necessidade de ter outros parâmetros além do PIB (Produto Interno Bruto), que é puramente econômico, para pautar o crescimento das sociedades. Enquanto estivermos pautados apenas no ganho de dinheiro como forma de desenvolvimento social, a gente está com uma proposta ruim.

Não é possível avaliar o desenvolvimento de uma comunidade sem levar em conta habitação, Reforma Agrária, produção de alimentos saudáveis, escolaridade, saúde, saneamento, mas hoje isso tudo não é levado em conta.
Avaliar uma sociedade pelo PIB é impreciso, pois muitos podem ganhar pouco e poucos podem ganhar muito. O crescimento do PIB mascara a realidade social. Então devemos pensar nos modelos de desenvolvimento que temos e pautar o desenvolvimento principalmente pelas condições sociais.

Por que se criou a Cúpula dos Povos?

A cúpula dos povos surgiu quando organizações da sociedade civil, como ONGs e movimentos sociais, perceberam a dificuldade de ter um debate na Rio+20 que abordasse um viés mais social para as crises que vivemos hoje. É importante que esses grupos tenham voz e sejam capazes de dar visibilidade às alternativas concretas que os povos vem fazendo em contrapartida ao que acontece com o processo oficial da Rio+20, dos acordos que destroem soberania e das soluções falsas. A cúpula surge para mostrar ao mundo que existem soluções alternativas, que vem dos povos, para as crises que encontramos hoje, debatendo um desenvolvimento igualitário.

Quais os resultados que a Via Campesina espera da Cúpula?

O principal resultado é que consigamos sair fortalecidos. A cúpula não inicia nem termina os debates. O principal é que os movimentos se fortaleçam e se unifiquem para lutar contra a nova ofensiva do capitalismo.



http://www.mst.org.br/O-modelo-do-agronegocio-vai-sair-fortalecido-na-Rio-20

Agricultura Camponesa já!!!!

http://www.mst.org.br/

Agronegócio, agrotóxico e “agrocâncer”

31 de maio de 2012

Do Brasil de Fato



As três palavras acima não são mera propaganda. Nos últimos dez anos tomou conta da forma de produzir na agricultura brasileira, o chamado agronegócio. Ele é um modelo de produção de mercadorias agrícolas, subordinado agora aos interesses do capital financeiro e das grandes empresas transnacionais. Aliados aos fazendeiros brasileiros, que entram com a natureza.

Nesse modelo, o capital financeiro entra com o capital. Do valor bruto de produção agrícola ao redor de 160 bilhões de reais, os bancos entram com aproximadamente 110 bilhões todos os anos, financiando a compra dos insumos e cobrando os juros, sua parte na mais-valia agrícola. E as empresas transnacionais fornecem os insumos agrícolas, máquinas, fertilizantes químicos e, sobretudo, os venenos agrícolas. A produção agrícola depois se destina ao mercado mundial, as chamadas commodities agrícolas.

Esse modelo construiu então uma forma de produzir, uma matriz tecnológica que combina grande propriedade, que vai aumentando a escala de produção a cada ano, monocultivo, se especializando num só produto de exportação, mecanização intensiva, pouco emprego de mão-de-obra direta e uso intensivo de venenos agrícolas. As conseqüências desse modelo que se tornou hegemônico nos últimos dez anos, e que atua independente de tudo, já apresentam seus resultados perversos, para o meio ambiente, para a economia brasileira, para o rendimento econômico dos próprios fazendeiros e, sobretudo para a saúde dos brasileiros.

Em termos econômicos, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), esse padrão de exploração econômica levou a uma matriz básica de custo de produção, em que os fazendeiros capitalistas brasileiros gastam em média, 24% com fertilizantes químicos, quase todos importados, 15% de todo capital investido em venenos, e mais 6% em sementes transgênicas. Pagam em média 2% de royalties para as empresas de sementes, totalizando 47% de todo seu custo. E gastam apenas 4% com mão-de-obra de trabalhadores rurais brasileiros e ficam, no final, com 13% de lucro. Ou seja, a conta é clara. Nossa agricultura está totalmente subordinada aos interesses do capital financeiro e estrangeiro e transfere a eles a maior parte do valor de produção.

Os resultados no meio ambiente são catastróficos. Hoje 80% de todas as terras cultivadas são utilizadas no monocultivo da soja/milho, cana de açúcar, algodão e na pecuária extensiva. Isso tem gerado um desequilíbrio da biodiversidade na natureza, que se agrava com aplicação dos venenos agrícolas, que matam tudo.

Com essa destruição da biodiversidade pelo monocultivo e pela aplicação dos venenos se gera um desequilíbrio também no regime das chuvas e nas condições climáticas de todo território brasileiro. Essa é a razão fundamental da ocorrência mais freqüente de secas mais duras e de enchentes mais torrenciais em todas as regiões do país.

Também se percebe as conseqüências na saúde humana e animal. O Brasil se transformou no maior consumidor mundial de venenos agrícolas. Consumimos sozinhos 20% de todos os venenos do mundo. As dez maiores empresas mundiais produtoras de venenos, que começaram na primeira e segunda guerra mundial produzindo bombas químicas, agora produzem venenos. São elas: Sygenta, Bayer, Basf, Dow, Monsanto, Dupont, Makhteshim (de Israel) Nufarm (Austrália) e Sumimoto e FMC (Japão). São todas empresas transnacionais que controlam os venenos no mundo e aqui no Brasil. Os fazendeiros gastaram 7,3 bilhões de dólares comprando venenos nessas empresas.

Os venenos, por serem de origem química, não se degradam na natureza. Eles matam os insetos, as bactérias no solo, afetam a fertilidade, contaminam as águas subterrâneas, contaminam as chuvas - muitos desses venenos secantes evaporam e ficam na atmosfera e depois retornam com as chuvas. E contaminam os alimentos que as pessoas consomem.

No organismo das pessoas estes venenos geram todo tipo de distúrbio, vão se acumulando, afetam órgãos específicos, até produzirem câncer com a destruição das células.

O Instituto Nacional do Câncer tem denunciado e o Brasil de Fato repercutido que no país devem ocorrer ao redor de um milhão de novos casos de câncer por ano. A maior parte deles originários de alimentos com agrotóxicos. Destes, se diagnosticados com tempo, os médicos podem salvar 40%. Portanto, estamos diante da iminência de um verdadeiro genocídio provocado pelos agrotóxicos: o “agrocâncer”. Inclusive o câncer de mama, agora aparece entre mulheres de todas as idades e tem entre suas causas principais os agrotóxicos!

Isso e muito mais foi agora denunciado por um extenso e profundo relatório produzido pela Associação Brasileira de Pós Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco). O documento alerta para os riscos e conseqüências que o uso generalizado de venenos agrícolas está provocando na saúde dos brasileiros.

O Brasil de Fato publica matérias sobre estas graves questões que a chamada grande imprensa, macomunada com os interesses do agronegócio e das empresas de venenos, silenciou.

Somamo-nos, assim, à Campanha Nacional Contra o uso de Agrotóxico e pela Vida que reúne mais de 50 entidades nacionais da sociedade brasileira, em sua missão permanente de conscientizar a população, os verdadeiros agricultores, as entidades e os parlamentares para que se ponha um fim ao uso de venenos em nosso país. E que, sobretudo, se penalize as empresas transnacionais fabricantes. Essas empresas deveriam, inclusive, serem obrigadas a pagar ao SUS o custo do tratamento do câncer e de outras enfermidades comprovadamente originarias do uso de venenos em nossa alimentação.
 Enviado por CIMI via twitter. Publicado por:http://www.mst.org.br/Agronegocio-agrotoxico-e-agrocancer

quarta-feira, 30 de maio de 2012

"O que mais preocupa é justamente a exposição crônica aos agrotóxicos"

29 de maio de 2012

Por Cida de Oliveira
Da Revista Retratos do Brasil

Durante muito tempo, uma dieta rica em frutas, verduras, legumes e cereais era garantia de saúde porque suas vitaminas, minerais, fibras e proteínas são essenciais para o bom funcionamento do organismo. Mas essa opção já não é tão saudável. Agroquímicos largamente usados para compensar a terra maltratada e exaurida e para matar ervas daninhas e insetos, sob pretexto de aumentar a produção, permanecem nos alimentos e causam uma série de doenças. Estudos científicos, inclusive dos próprios fabricantes durante o desenvolvimento dos produtos, constatam prejuízos à saúde.
Em Primavera do Leste (MT), trator faz pulverização da soja

A pesquisadora Raquel Rigotto, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, conta que há intoxicações agudas que surgem logo após as pulverizações, sinalizadas por dor de cabeça, náusea, alergia, ardor na pele, no nariz e até convulsões, coma e morte. E há os efeitos crônicos pelo acúmulo de veneno no organismo, afetando quem planta e quem consome. “Causam alterações hormonais, no fígado e rins, abortos, malformações congênitas, câncer de tireoide, de mama, leucemia, distúrbios cerebrais e comportamentais, como tentativas de suicídio”, esclarece Raquel, que estuda os impactos das pulverizações aéreas na região da chapada do Apodi, no Ceará. Há aumento de casos de câncer, mas a pesquisadora diz que a subnotificação esconde os números reais. Existe ainda o potencial agravamento dos problemas de saúde devido a mistura de ingredientes ativos, dosagens maiores e as aplicações seguidas para compensar a resistência das plantas aos componentes.

O relatório mais recente do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), traz dados preocupantes. Das 2.488 amostras colhidas em 2010, apenas 37% estavam livres de veneno. Isso preocupa por se tratar de alimentos comuns da mesa dos brasileiros: arroz, feijão, alface, tomate, batata, cebola, laranja, repolho, pepino, abacaxi, beterraba, cenoura, couve, maçã, mamão, manga, morango e pimentão. E somente em 35% havia resquícios em doses inferiores ao limite permitido. Já em 28% havia sinais de produtos proibidos para aquela planta, além de substâncias autorizadas mas acima do permitido.

Há culturas que recebem produtos impróprios, banidos no país ou nem sequer registrados para uso. Segundo a agência, 59,9% das amostras apresentaram pelo menos um ingrediente ativo irregular e 23,3%, ao menos dois. Em uma porção de morango havia seis diferentes ingredientes e em uma de pimentão, sete. Entre os venenos mais encontrados estão o carbendazim e o clorpirifós, com uso restringido pela Anvisa, o metamidofós, em processo de proibição, e o acetato. Das 694 porções insatisfatórias, 30% continham sobras de componentes ativos que não deveriam ser usados porque estão em processo de reavaliação toxicológica. “A mandioca, o milho e a soja, base da indústria de muitos alimentos, ainda não são analisados porque o processo é complexo e caro”, afirma Luiz Cláudio Meirelles, gerente-geral de toxicologia da Anvisa.

Segundo Meirelles, o órgão trabalha pelo banimento de agrotóxicos proibidos em outros países e pelo cumprimento das normas estabelecidas por lei. “À luz do conhecimento científico atual, há limites para o uso seguro. Mas é claro que isso pode mudar. Há 30 anos, substâncias hoje sabidamente cancerígenas, como o BHC (hexabenzeno de cloro) e o DDT (dicloro-difenil-tricloroetano), eram liberadas.”

A presença de resíduos acima do limite tido como seguro decorre do uso abusivo, sem intervalo entre a última aplicação e a colheita, e do desrespeito às orientações. “Lavar os alimentos em água corrente só retira parte dos resíduos presentes na casca e nas folhas. Alguns agrotóxicos são absorvidos pelos tecidos internos da planta e, se não forem degradados pelo metabolismo do próprio vegetal, serão ingeridos”, afirma Rosany Bochner, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e coordenadora do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox). Como ela destaca, a toxidez dessas substâncias supera a dos medicamentos. “Enquanto o agrotóxico mata três a cada 100 intoxicados, os medicamentos matam um a cada 200.” Em 2009, foram registrados 7.677 casos agudos (7,64% do total) causados por produtos de alta toxicidade, como o chumbinho, vendido nas cidades e de maneira ilegal, para matar ratos. “Muito usado em tentativas de suicídio, acarreta um grave problema de saúde pública.”

O Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos. Em 2010, foram comercializados mais de 1 milhão de toneladas, o equivalente a 5 quilos por habitante. A triste liderança começou entre 2001 e 2008, quando as vendas passaram de US$ 2 bilhões para mais de US$ 7 bilhões. No mesmo período, a área cultivada por alimentos aumentou só 4,59%. “Os lucros seguem para as matrizes no exterior. Nós ficamos com as doenças e o impacto ambiental”, diz o agricultor Cleber Folgado, da coordenação da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida.

As extensas lavouras de soja, milho e algodão colocam Mato Grosso como o maior consumidor nacional. Como em outras áreas, no estado o veneno geralmente é pulverizado por aviões ou outros implementos, ignorando limites de córregos, beiras de rio e quintais das casas, conforme determinam inócuas instruções normativas do Ministério da Agricultura. Segundo especialistas, o vento e as chuvas espalham o veneno, alcançando também os lençóis freáticos.

Estudos coordenados por Wanderlei Pignati, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso, mostram que, além de pessoas e animais, a terra, o ar, a chuva, as águas e até o leite materno estão contaminados nas cidades de Rio Verde e Campo Verde. Ele conta que, das 232 amostras de água de poços artesianos, 83% continham vários tipos de pesticida. O mesmo ocorreu com 56% das amostras de água de chuva recolhidas nas escolas: 25% apresentavam pelo menos dois tipos de veneno, como o endossulfam – que será proibido a partir de julho. O leite de 62 mães que participaram do estudo continha uma substância derivada do DDT, proibido em 1985 para a agricultura, e 76% tinha endossulfam. Algumas das mães tiveram filhos com malformações congênitas. No sangue de trabalhadores rurais havia o dobro de resíduos de glifosato em relação ao de moradores da zona urbana.

“Comparações mostram que o problema é maior onde os agroquímicos são usados em quantidades maiores”, afirma Pignati. Segundo ele, outras pesquisas no estado apontam maior incidência de câncer nos municípios onde há maior pulverização. Os dados respaldam a luta de movimentos sociais e sindicatos, que já resultou em ações do Ministério Público.

Pesquisadora da Fiocruz em Recife e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco, Lia Giraldo da Silva Augusto afirma que os malefícios dos agrotóxicos são denunciados desde a década de 1960. Os produtos daquela época, os organoclorados, foram substituídos pelos fosforados, que se mostraram ainda piores. “Como essas substâncias não atacam apenas as pragas que se deseja eliminar, as intoxicações são mais intensas.” Outra questão é a falta de estudos sobre os danos causados pelo acúmulo de pequenas quantidades. “Prevalece ainda a ideia de que os agrotóxicos só trazem problemas agudos. O que mais preocupa, em termos de segurança alimentar, é justamente essa exposição crônica, que se confunde com outras causas de doenças.”

Conhecendo os riscos dos agrotóxicos, a professora de tai chi chuan Maria Luiza Hourneaux Affonso, de Santo André, no ABC paulista, optou por uma alimentação agroecológica há mais de 30 anos. E ganhou saúde. Antes, ao fazer exames para doar um rim para o pai, soube que tinha o mesmo problema. A doença, que atinge todos os familiares, evolui para a insuficiência renal, que exige sessões de hemodiálise e posterior transplante. “Como os filtros do meu organismo estavam comprometidos, eu não poderia continuar ingerindo venenos. Deixei de consumir alimentos com agrotóxicos, cortei carne, e convivo até hoje com meus rins.” Segundo conta, nunca precisou fazer hemodiálise. Um primo bem mais novo não teve essa preocupação e está na fila do transplante.

No final de 2011, a Comissão de Seguridade Social da Câmara aprovou relatório sobre o uso de agrotóxicos. De acordo com o texto do relator, padre João (João Carlos Siqueira, PT-MG), esses produtos são beneficiados pela redução de ICMS e isenção de IPI para vários ingredientes ativos perigosos e de recolhimentos para o PIS/Pasep e Cofins. Há ainda benefícios estaduais, como no Ceará, onde a isenção chega a 100%. Já a produção agroecológica, com métodos alternativos para o controle de pragas e doenças, não tem incentivos.

Mesmo assim, há pequenos agricultores que romperam com o sistema que os obriga a comprar sementes, inclusive transgênicas, e pesticidas como condição para o acesso ao crédito. Muitos trabalham para produzir alimentos livres de veneno. Em Linhares, no Espírito Santo, os familiares de Ana Cristina Soprani e Elias Alves dos Santos deixaram para trás a monocultura do café praticada por mais de duas décadas. Nos últimos 12 anos, se organizaram para o retorno a uma produção diversificada. Tiveram de recuperar o solo degradado, frequentar reuniões e cursos de agroecologia. Hoje produzem feijão, milho, mandioca, café, banana, laranja, abóbora, quiabo, jiló, maxixe, mamão e coco verde, além de doces e pães caseiros. Ao todo, são comercializados 1.600 quilos de alimentos toda semana. “Não queremos selo para agregar valor à nossa produção, mas oferecer à classe trabalhadora o mesmo alimento saudável que está na nossa mesa”, diz Ana Cristina.

Em Nova Santa Rita (RS), a Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre já comercializa arroz branco, integral e parboilizado. A safra deste ano está prevista em 280 mil sacas. São 417 famílias, de 16 assentamentos, cultivando 3.993 hectares de arroz ecológico. Para o produtor Emerson José Giacomelli, essas famílias poupam o meio ambiente de agressões químicas. “O arroz tradicional utiliza muito inseticida, adubo, fertilizante e ureia, que contaminam a água dos arrozais e, depois, os córregos para onde correm.” Outro diferencial, segundo ele, é o preço. Como as famílias controlam desde a produção das sementes até a distribuição, os produtores vendem mais barato e têm melhor renda.

Para a agrônoma Nívia Regina da Silva, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), é possível alimentar toda a população sem agrotóxicos. Isso, porém, exige mudanças no campo, hoje marcado pela concentração de terra, monocultura de produtos para exportação e uso de sementes modificadas, fertilizantes e pesticidas. “A luta do pequeno agricultor, que realmente produz alimentos, é enorme. Ele é obrigado a comprar sementes que não brotam, que exigem a presença de agroquímicos, os quais, por sua vez, exigem sementes melhores. É um círculo vicioso. Se não mudarmos essa forma de produção, teremos um país doente.”  
http://www.mst.org.br/O-que-mais-preocupa-e-justamente-a-exposicao-cronica-aos-agrotoxicos

terça-feira, 29 de maio de 2012

Vejam Relatório Final da VI Conferência do Faor

 
Enviado do Marquinho Mota 

Agricultores veem na agroecologia a alternativa para o problema da seca

agroecologiaA agricultora gaúcha Rosiele Cristiane Luttki, 34 anos, trabalhou toda a sua vida no campo. Para saber o que ia plantar costumava observar os sinais da natureza, assim como faziam seu pai e seu avô. Dependendo do jeito que o sol nascia e da posição do vento, sabia se ia chover ou não. "Se dava três dias de vento na nascente, sabia que vinha chuva. Se no final da tarde o sol entrasse na cor laranja, sabia que no dia seguinte dava para trabalhar", lembra. "A gente seguiu esses sinais a vida toda. Mas hoje em dia está tudo bagunçado."
Rosiele plantou fumo durante 15 anos e trabalha para diversificar sua produção. No entanto, com a seca que afeta o Sul, apesar de ter plantado milho e feijão, nada colheu. E os problemas não acabaram por aí. Rosiele tem dívidas para pagar. A agricultora está devendo R$ 2.600 por conta das sementes que comprou. Não recebeu o seguro do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), pois não conseguiu plantar toda a sua área, conforme manda o programa, e ainda precisa pagar cinco parcelas anuais de R$ 1.800 referentes ao investimento em equipamentos de irrigação feito pelo Pronaf.
Num cenário de incertezas, os chamados sistemas agroecológicos aparecem como uma alternativa mais sustentável para o agricultor. "Queremos deixar a forma de produção convencional e fazer a transição para a agroecologia, que inclui adubação verde, policultivo e uso da própria semente", diz.
"Quem mora no campo já sente os efeitos das mudanças climáticas há pelo menos dez anos", diz frei Sérgio Gorgen, representante do Movimento dos Pequenos Agricultores, ligado a Via Campesina. Segundo ele, o Rio Grande do Sul vive uma de suas piores estiagens. "A última chuva na região foi no mês de novembro. Agora já vai entrar novamente o período de inverno e mais uma seca", diz.
"Tínhamos a percepção de que essas mudanças iriam demorar muito para chegar. Mas hoje em dia quem está no campo já sente na pele o que está acontecendo", diz Rosicléia dos Santos, secretária de Meio Ambiente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). As áreas mais afetadas, segundo ela, são as regiões Norte e Nordeste do país. Em algumas regiões do semiárido do Nordeste não chove há dois anos. Essas áreas já enfrentam problemas de desertificação.
"No entanto, é preciso mudar o sistema de produção e fazer políticas que alcancem os pequenos agricultores", diz Rosicléia. Ao lado da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), a Contag e outros movimentos de pequenos agricultores levaram propostas para o governo para a elaboração da Política Nacional de Agroecologia que deve ser lançada durante a Rio+20.
"O Brasil investiu muito cedo na expansão do modelo de agricultura convencional que utiliza fertilizantes químicos e agrotóxicos no controle de pragas", afirma Flávia Londres, agrônoma da Esalq, que assessora ONGs e movimentos sociais em assuntos ligados à agrobiodiversidade. "Por outro lado, nenhuma política foi criada para incentivar sistemas de produção mais harmônicos, como a agroecologia", diz.
Segundo Paulo Guilherme, secretário de extrativismo e desenvolvimento rural do Ministério do Meio Ambiente, o conteúdo da Política Nacional de Agroecologia ainda está em discussão, mas o governo trabalha com o horizonte de apresentá-la durante a reunião. A política deve prever financiamento, abertura de mercados e formas de incentivo para fazer a transição para o novo sistema. As medidas que compõem o plano de implementação devem ser estabelecidas até 2014.

Sistemas de irrigação e crédito sempre foram as grandes demandas. Segundo frei Sérgio, "o governo precisa deixar de estimular as monoculturas e aumentar o crédito para a agroecologia."
(*) Matéria de Giselle Paulino no jornal Valor Econômico.
Fonte:  http://agroecologia.org.br/index.php/noticias/208-agricultores-veem-na-agroecologia-a-alternativa-para-o-problerma-da-seca

Michael Löwy: Pesquisador diz não esperar nada da cúpula e critica a 'economia verde'



Da Redação
Michael Lowy_iEm junho, o Brasil sedia a Rio+20, a cúpula mundial de meio ambiente, um dos temas da edição 180 de Caros Amigos, que está nas bancas. A cúpula já divide opiniões, como a do pesquisador Michael Löwy, um dos entrevistados da reportagem publicada na revista.
Confira abaixo a entrevista de Löwy, feita pela jornalista Bárbara Mengardo. Leia a reportagem completa sobre a Rio+20 na edição nas bancas (veja aqui).

Caros Amigos - O que você espera da Rio+20, tanto do ponto de vista das discussões quanto da eficácia de possíveis decisões tomadas?
Michael Löwy - Nada! Ou, para ser caridoso, muito pouco, pouquíssimo… As discussões já estão formatadas pelo tal "Draft Zero", que como bem diz (involuntariamente) seu nome, é uma nulidade, um zero à esquerda. E a eficácia, nenhuma, já que não haverá nada de concreto como obrigação internacional. Como nas conferências internacionais sobre o câmbio climático em Copenhagen, Cancun e Durban, o mais provável é que a montanha vai parir um rato: vagas promessas, discursos, e, sobretudo, bons negócios 'verdes". Como dizia Ban-Ki-Moon, o secretário das Nações Unidas - que não tem nada de revolucionário – em setembro 2009, "estamos com o pé colado no acelerador e nos precipitamos ao abismo”. Discussões e iniciativas interessantes existirão sobretudo nos fóruns Alternativos, na Contra-Conferência organizada pelo Fórum Social Mundial e pelos movimentos sociais e ecológicos.
CA - Desde a Eco 92, houve mudanças na maneira como os estados lidam com temas como mudanças climáticas, preservação das florestas, água e ar, fontes energéticas alternativas, etc.? Se sim, o quão profundas foram essas mudanças?
ML - Mudanças muito superficiais! Enquanto a crise ecológica se agrava, os governos - para começar o dos Estados Unidos e dos demais países industrializados do Norte, principais responsáveis do desastre ambiental - "lidaram com o tema", desenvolveram, em pequena escala, fontes energéticas alternativas, e introduziram "mecanismos de mercado" perfeitamente ineficazes para controlar as emissões de CO2. No fundo, continua o famoso "buzines as usual", que, segundo cálculo dos cientistas, nos levara a temperaturas de 4° ou mais graus nas próximas décadas.
CA - Em comparação a 1992, a sociedade está muito mais ciente da necessidade de proteção do meio ambiente. Esse fato poderá influir positivamente nas discussões da Rio+20?
ML - Esta sim é uma mudança positiva! A opinião pública, a "sociedade civil", amplos setores da população, tanto no Norte como no Sul, está cada vez mais consciente de necessidade de proteger o meio ambiente - não para "salvar a Terra" - nosso planeta não está em perigo - mas para salvar a vida humana (e a de muitas outras espécies) nesta Terra. Infelizmente, os governos, empresas e instituições financeiras internacionais representados no Rio+20 são pouco sensíveis à inquietude da população, que buscam tranquilizar com discursos sobre a pretensa "economia verde". Entre as poucas exceções, o governo boliviano de Evo Morales.
CA - Como a destruição do meio-ambiente relaciona-se com a desigualdade social?
ML - As primeiras vítimas dos desastres ecológicos são as camadas sociais exploradas e oprimidas, os povos do Sul e em particular as comunidades indígenas e camponesas que vêem suas terras, suas florestas e seus rios poluídos, envenenados e devastados pelas multinacionais do petróleo e das minas, ou pelo agronegócio da soja, do óleo de palma e do gado. Há alguns anos, Lawrence Summers, economista americano, num informe interno para o Banco Mundial, explicava que era lógico, do ponto de vista de uma economia racional, enviar as produções tóxicas e poluidoras para os países pobres, onde a vida humana tem um preço bem inferior: simples questão de cálculo de perdas e lucros.
Por outro lado, o mesmo sistema econômico e social - temos que chamá-lo por seu nome e apelido: o capitalismo – que destrói o meio-ambiente é responsável pelas brutais desigualdades sociais entre a oligarquia financeira dominante e a massa do "pobretariado". São os dois lados da mesma moeda, expressão de um sistema que não pode existir sem expansão ao infinito, sem acumulação ilimitada - e portanto sem devastar a natureza – e sem produzir e reproduzir a desigualdade entre explorados e exploradores.
CA - Estamos em meio a uma crise do capital. Quais as suas consequências ambientais e qual o papel do ecossocialismo nesse contexto?
ML - A crise financeira internacional tem servido de pretexto aos vários governos ao serviço do sistema de empurrar para "mais tarde" as medidas urgentes necessárias para limitar as emissões de gases com efeito de serra. A urgência do momento - um momento que já dura há alguns anos - é salvar os bancos, pagar a dívida externa (aos mesmos bancos), "restabelecer os equilíbrio contábeis", "reduzir as despesas públicas". Não há dinheiro disponível para investir nas energias alternativas ou para desenvolver os transportes coletivos.
O ecossocialismo é uma resposta radical tanto à crise financeira, quanto à crise ecológica. Ambas são a expressão de um processo mais profundo: a crise do paradigma da civilização capitalista industrial moderna. A alternativa ecossocialista significa que os grandes meios de produção e de crédito são expropriados e colocados a serviço da população. As decisões sobre a produção e o consumo não serão mais tomadas por banqueiros, managers de multinacionais, donos de poços de petróleo e gerentes de supermercados, mas pela própria população, depois de um debate democrático, em função de dois critérios fundamentais: a produção de valores de uso para satisfazer as necessidades sociais e a preservação do meio ambiente.
CA - O “rascunho zero” da Rio+20 cita diversas vezes o termo "economia verde", mas não traz uma definição para essa expressão. Na sua opinião, o que esse termo pode significar? Seria esse conceito suficiente para deter a destruição do planeta e as mudanças climáticas?
ML - Não é por acaso que os redatores do tal "rascunho" preferem deixar o termo sem definição, bastante vago. A verdade é que não existe “economia” em geral: ou se trata de uma economia capitalista, ou de uma economia não-capitalista. No caso, a "economia verde" do rascunho não é outra coisa do que uma economia capitalista de mercado que busca traduzir em termos de lucro e rentabilidade algumas propostas técnicas "verdes" bastante limitadas. Claro, tanto melhor se alguma empresa trata de desenvolver a energia eólica ou fotovoltaica, mas isto não trará modificações substanciais se não for amplamente subvencionado pelos estados, desviando fundos que agora servem à indústria nuclear, e se não for acompanhado de drásticas reduções no consumo das energias fósseis. Mas nada disto é possível sem romper com a lógica de competição mercantil e rentabilidade do capital. Outras propostas "técnicas" são bem piores: por exemplo, os famigerados "biocombustíveis", que como bem o diz Frei Betto, deveriam ser chamados "necrocombustiveis", pois tratam de utilizar os solos férteis para produzir uma pseudo-gasolina "verde", para encher os tanques dos carros - em vez de comida para encher o estômago dos famintos da terra.
CA - Quem seriam os principais agentes na luta por uma sociedade mais verde, o governo, a iniciativa privada, ONGs, movimentos sociais, enfim?
ML - Salvo pouquíssimas exceções, não há muito a esperar dos governos e da iniciativa privada: nos últimos 20 anos, desde a Rio-92, demonstraram amplamente sua incapacidade de enfrentar os desafios da crise ecológica. Não se trata só de má-vontade, cupidez, corrupção, ignorância e cegueira: tudo isto existe, mas o problema é mais profundo: é o próprio sistema que é incompatível com as radicais e urgentes transformações necessárias.
A única esperança então são os movimentos socais e aquelas ONGs que são ligadas a estes movimentos (outras são simples "conselheiros verdes" do capital). O movimento camponês - Via Campesina -, os movimentos indígenas e os movimentos de mulheres estão na primeira linha deste combate; mas também participam, em muitos países, os sindicatos, as redes ecológicas, a juventude escolar, os intelectuais, várias correntes da esquerda. O Fórum Social Mundial é uma das manifestações desta convergência na luta por um "outro mundo possível", onde o ar, a água, a vida, deixarão de ser mercadorias.
CA - Como você analisa a maneira como a questão ambiental vem sendo tratada pela mídia?
ML - Geralmente de maneira superficial, mas existe um número considerável de jornalistas com sensibilidade ecológica, tanto na mídia dominante como nos meios de comunicação alternativos. Infelizmente uma parte importante da mídia ignora os combates sócio-ecológicos e toda crítica radical ao sistema.
CA - Você acredita que, atualmente, em prol da preservação do meio ambiente é deixada apenas para o cidadão a responsabilidade pela destruição do planeta e não para as empresas? Em São Paulo, por exemplo, temos que comprar sacolinhas plásticas biodegradáveis, enquanto as empresas se utilizam do fato de serem supostamente "verdes" como ferramenta de marketing.
ML - Concordo com esta crítica. Os responsáveis do desastre ambiental tratam de culpabilizar os cidadãos e criam a ilusão de que bastaria que os indivíduos tivessem comportamentos mais ecológicos para resolver o problema. Com isso tratam de evitar que as pessoas coloquem em questão o sistema capitalista, principal responsável da crise ecológica. Claro, é importante que cada indivíduo aja de forma a reduzir a poluição, por exemplo, preferindo os transportes coletivos ao carro individual. Mas sem transformações macro-econômicas, ao nível do aparelho de produção, não será possível brecar a corrida ao abismo.
CA - Quais as diferenças nas propostas que querem, do ponto de vista ambiental, realizar apenas reformas no capitalismo e as que propõem mudanças estruturais ou mesmo a adoção de medidas mais "verdes" dentro de outro sistema econômico?
ML - O reformismo "verde" aceita as regras da "economia de mercado", isto é, do capitalismo; busca soluções que seja aceitáveis, ou compatíveis, com os interesses de rentabilidade, lucro rápido, competitividade no mercado e "crescimento" ilimitado das oligarquias capitalistas. Isto não quer dizer que os partidários de uma alternativa radical, como o ecossocialismo, não lutam por reformas que permitam limitar o estrago: proibição dos transgênicos, abandono da energia nuclear, desenvolvimento das energias alternativas, defesa de uma floresta tropical contra multinacionais do petróleo (Parque Yasuni!), expansão e gratuidade dos transportes coletivos, transferência do transporte de mercadorias do caminhão para o trem, etc. O objetivo do ecossocialismo é o de uma transformação radical, a transição para um novo modelo de civilização, baseado em valores de solidariedade, democracia participativa, preservação do meio ambiente. Mas a luta pelo ecossocialismo começa aqui e agora, em todas as lutas sócio-ecológicas concretas que se enfrentam, de uma forma ou de outra, com o sistema.
Fonte: http://carosamigos.terra.com.br/index2/index.php/noticias/2672-michael-loewy-critica-rio20-e-a-propaganda-da-economia-verde

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Alimentos envenenam crianças

Sob o pretexto de atividades filantrópicas nas escolas, empresas de alimentos não saudáveis aumentam seu poder de domesticação

28/05/2012

Frei Betto

“As crianças de todas as regiões das Américas estão sujeitas à publicidade invasiva e implacável de alimentos de baixo ou nenhum valor nutricional, ricos em gordura, açúcar ou sal”, constata pesquisa da Organização Pan-Americana da Saúde (2012).
Basta olhar em volta para verificar que nossas crianças (com menos de 16 anos de idade) apresentam elevada taxa de obesidade e doenças crônicas relacionadas à nutrição, como diabetes e distúrbios cardiovasculares.
Um dos fatores que mais influenciam maus hábitos alimentares nesta faixa etária é a publicidade de produtos de baixo valor nutritivo, como cereais matinais já adoçados, refrigerantes, doces, sorvetes, salgadinhos e fast food. Eles “enchem” a barriga, trazem sensação de saciedade sem, no entanto, suprir as necessidades nutricionais básicas.
Resolução da Organização Mundial da Saúde, de maio de 2010, instou os governos a se esforçarem por restringir a promoção e a publicidade de alimentos para crianças.
O mais poderoso veículo de promoção de alimentos nocivos é a TV. Expostas excessivamente a ela, as crianças tendem a querer consumir as marcas ali anunciadas. Em geral, a propaganda cria vínculos emocionais entre o produto e o consumidor, e envolve brindes, concursos e competições.
Sob o pretexto de atividades filantrópicas nas escolas, empresas de alimentos não saudáveis aumentam seu poder de domesticação. Pesquisas brasileiras indicam que assistir TV por mais de duas horas por dia influi no aumento do índice de massa corporal em meninos.
Relatório de agência de pesquisa de mercado aponta que, no Brasil, na Argentina e no México, 75% das mães com filhos de 3 a 9 anos acreditam que a publicidade influencia os pedidos das crianças na compra de alimentos (no Brasil, 83%).
No Reino Unido, é proibida na TV a publicidade de alimentos não saudáveis. A Irlanda limita a presença de celebridades nesses anúncios e exige o uso de advertências. A Espanha desenvolveu um código autorregulatório e restringe o uso de celebridades e a distribuição de produtos no mercado.
Segundo relatório do Ministério da Saúde (2008), durante um ano, no Brasil, mais de 4 mil comerciais de alimentos foram veiculados na TV e em revistas, dos quais 72% referiam-se a alimentos não saudáveis.
No Brasil, regulamentação vigente obriga colocar advertências nos comerciais de alimentos, embora a Abia, principal associação da indústria de alimentação do país, se recuse a fazê-lo. Ela obteve liminar garantindo a não aplicação das novas regras e a decisão final depende agora da Justiça.
É preciso, pois, que famílias e escolas se dediquem à educação nutricional das crianças. Peças publicitárias devem ser projetadas em salas de aula e debatidas. Cria-se, assim, distanciamento crítico frente ao produto e melhor discernimento por parte dos consumidores.
Em São Paulo, alunos projetaram em sala de aula propagandas gravadas em casa. Após debaterem as peças publicitárias, decidiram adquirir determinada marca de iogurte. Remetido o conteúdo à análise clínica, constatou-se não conferir com as indicações contidas na embalagem. Assim, os alunos aprenderam o que significa propaganda enganosa.
A Organização Pan-Americana da Saúde recomenda que sejam anunciados, sem restrição, os alimentos naturais, aqueles nos quais não há adição de adoçantes, açúcar, sal ou gordura. São eles: frutas, legumes, grãos integrais, laticínios sem gordura ou com baixo teor, peixes, carnes, ovos, frutas secas, sementes e favas. No caso de bebidas, água potável.
Eis o dilema: enquanto famílias e escolas querem formar cidadãos, a publicidade investe na ampliação do consumismo. A ponto de, no Brasil, se admitir o uso de celebridades, como atletas, na propaganda de alimentos não saudáveis e obviamente nocivos, como bebidas alcoólicas.
É preocupante constatar que, em nosso país, o alcoolismo se inicia por volta dos 12 anos, e aumenta a ingestão de vodca na faixa etária inferior a 16 anos.
A fiscalização em bares e restaurantes é precária, e padarias e supermercados vendem, quase sem restrição, bebidas alcoólicas a menores de idade.
Mas, o que esperar de uma família ou escola que oferece na mesa e na cantina os mesmos produtos nocivos vendidos pelo camelô da esquina?
Essa é a crônica de graves enfermidades anunciadas.

Frei Betto é escritor, autor de “Alfabetto – autobiografia escolar” (Ática), entre outros livros. www.freibetto.org <http://www.freibetto.org> Twitter:@freibetto.
http://www.brasildefato.com.br/node/9665

sábado, 26 de maio de 2012

Articulação Nacional de Agroecologia de página nova divulga boletim


Boletim da Articulação Nacional de Agroecologia - Número 1 - Maio de 2012

A Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) está desenvolvendo uma estratégia de comunicação para dar visibilidade aos debates e iniciativas do campo agroecológico brasileiro. Acreditamos que não adianta criticar a ausência do tema na grande mídia sem propor uma alternativa e produzir informações capazes de romper os bloqueios, que são parte da ofensiva ideológica do agronegócio para se apresentar à sociedade como o único caminho possível.
Precisamos avançar no campo da comunicação, visibilizar práticas, disputar ideias e valores, mostrar que outro modelo de desenvolvimento para o campo e a agricultura é possível, e que iniciativas ricas já estão em curso em todo o país. Temos clareza que o desafio do campo agroecológico é essencialmente político, e portanto uma estratégia ousada de comunicação é fundamental.
Recentemente, reformulamos a página da ANA (www.agroecologia.org.br) e criamos uma página no Facebook, a fim de multiplicar informes, notícias e documentos. Visitem! Indiquem aos amigos! Há dois meses um jornalista está trabalhando na secretaria executiva, produzindo matérias sobre a ANA, e divulgando as informações de organizações e redes de nosso campo.
Sintam-se convidados a produzir e enviar notícias, documentos, reportagens, vídeos, matérias.
Este boletim é mais uma ferramenta para rompermos o cerco midiático em favor do agronegócio e abrir caminhos mais férteis para o campo agroecológico brasileiro. Para iniciarmos este trabalho, trazemos, entre outras, matéria sobre a construção da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Esperamos que gostem.
Saudações agroecológicas,
Denis Monteiro (secretaria executiva da ANA) – secretaria.ana@agroecologia.org.br
Eduardo Sá (jornalista) – comunicacao@agroecologia.org.br

Movimentos reafirmam suas proposições para Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica


Após a realização de vários seminários regionais e nacionais, as organizações e movimentos ligados à Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e à Produção Orgânica se reuniram com o governo federal para debater os termos do decreto a ser assinado pela presidenta da República instituindo a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. O Diálogo Governo e Sociedade Civil – Devolutiva da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica ocorreu no auditório do Palácio do Planalto, em Brasília, na última sexta-feira (18). O evento contou com a participação do Ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e de representantes dos ministérios envolvidos no processo. A previsão é que o decreto seja assinado no próximo mês, por ocasião da Rio+20.

“Precisamos tensionar para avançar na política agroecológica”


Relator de estudo aprovado na Câmara sobre os agrotóxicos, deputado Padre João (PT-MG) fala sobre o enfrentamento ao uso de venenos e a necessidade de pressão sobre o governo
Joana Tavares, de Belo Horizonte (MG)
No final do ano passado, a Comissão de Seguridade Social e Família, da Câmara dos Deputados, aprovou um relatório que destrincha os malefícios do uso indiscriminado de agrotóxicos no país. Constituído após visitas a comunidades, estudos e reuniões com diversos setores da sociedade – desde os movimentos sociais até representantes das transnacionais – o relatório é visto pelo relator, deputado federal Padre João (PT), como um passo importante para a constituição de uma política de enfrentamento à questão, que envolve a discussão do modelo econômico e a aprovação de medidas que garantam a implementação da agroecologia. Nesta entrevista ao Brasil de Fato, o deputado fala ainda da articulação de uma frente parlamentar para o enfrentamento aos agrotóxicos, denuncia o interesse das grandes empresas sobre as sementes – o que pode significar uma dependência ainda maior aos venenos no futuro – e analisa o “modelo perverso” que o PSDB implementou em Minas Gerais.
Brasil de Fato – Quais foram os principais elementos que o relatório aprovado pela Comissão de Seguridade Social e Família trouxe para a questão dos agrotóxicos?
Padre João – Até mesmo antes do relatório, a grande conquista foi termos a garantia de um espaço institucional para o debate, que durou seis meses na Câmara, na perspectiva de produzir um documento – que é esse relatório – questionando, levando em conta os impactos do agrotóxico no meio ambiente, na saúde dos trabalhadores e da população como um todo. Esse é o maior ganho que nós brasileiros tivemos, independente de não termos tido todos os avanços que gostaríamos em relação a uma linha de enfrentamento aos agrotóxicos. O que está no relatório são dados que vêm de todos os setores, que não podem ser questionados. Fechamos qualquer porta para que fosse questionada a veracidade do que está lá. Ele é fruto de todos os segmentos da sociedade, desde os produtores, quem utiliza, os órgãos de governo e os movimentos sociais, que tiveram um papel muito importante por puxar essa temática no campo, na cidade e nos espaços institucionais. O que constatamos pode ser óbvio pra muitos. Mas nas visitas técnicas, ouvindo as comunidades, não dá pra ter dúvida do nexo entre os agrotóxicos e uma série de doenças, como o câncer, deficiência renal, perda do rim, doenças de pele, depressão e até suicídio.
Outra questão, de menor relevância, é a das embalagens, que as empresas dizem que recolhem e não é verdade, muito menos da metade é recolhida. Mas é claro que o verdadeiro problema, muito mais complexo é o conteúdo da embalagem. Outro problema sério é a receita agronômica. A maior parte dos agricultores não tem esse acompanhamento, não existem nas lojas agrônomos que acompanham e orientam. Se a gente cruza os dados do IBGE – que diz que o índice de analfabetos no campo chega a 20, 25% – vemos que é justamente esse público que vem lidando com um produto perigoso. Além de não conseguir ler, eles não têm uma orientação. É muito grave essa situação. Problema muito grave são as subnotificações. Os nossos profissionais de saúde não estão preparados para identificar de fato uma intoxicação oriunda de agrotóxico, aguda e, principalmente, crônica, para fazer a investigação. Estamos pressionando o Ministério da Saúde, através da Anvisa, para cobrar capacitação e buscar a precisão. Existem até projetos de lei nessa linha – apesar de todo carinho e respeito que temos por qualquer trabalhador, sobretudo pelo trabalhador público – de criminalizar quem for omisso nesse processo. Porque tivemos depoimentos de que não se trata, muitas vezes, de uma maior qualificação, mas de um sistema de pressão. Porque os fazendeiros tomam conta, monitoram tudo e manipulam tudo, impedindo que se notifique como intoxicação no trabalho.
Desde a divulgação do relatório, no final do ano passado, o que tem avançado em políticas públicas de enfrentamento ao agronegócio?
Uma conquista de toda essa luta é a constituição de um grupo de trabalho pela Secretaria-Geral da Presidência, um grupo interministerial. Estamos cobrando a agenda de trabalho desse grupo, para fazer uma interação entre ele, os movimentos sociais e a Câmara, o que será possível através de uma frente parlamentar que estamos organizando, que abre para a participação de todos os deputados. Queremos que ela seja mista, para que os senadores também possam participar. Será uma série de ações, desde o acompanhamento de cada projeto que tramita sobre o assunto, daqueles que insistem em importar venenos, inclusive de países que já proibiram seu uso. A frente parlamentar vai ter uma agenda tensa, complexa e cheia. Mas a correlação de forças no Congresso é perversa. Somos poucos que têm essa convicção. O que está por trás é o poder econômico, que financiou campanhas. Essa minoria que tem poder econômico tem a maioria no Congresso, consegue aprovar o que quer e deixa de aprovar muitas coisas que não são de seu interesse. Essa distorção grave tem que ser corrigida, com a reforma política, com financiamento público de campanhas.
Essa frente parlamentar já está atuando?
Estamos com regimento, estatuto, já tivemos várias reuniões com movimentos sociais do campo. A frente possibilita essa interação entre o institucional e os movimentos sociais. Um papel muito importante da frente é pressionar o governo – que entendo que é nosso, precisa ser disputado para que seja nosso de fato – para avançar na política agroecológica. Não resolve fazer o enfrentamento dos agrotóxicos e colocar algo no lugar, ou resgatar algo, na linha do fortalecimento da agricultura familiar e da agroecologia. Primeiro precisamos fazer uma autocrítica: precisamos garantir que o modelo da agricultura familiar seja diferenciado na forma de produção, não só no tamanho da propriedade.
Temos percebido que as grandes empresas adquirem outras do setor, as seis grandes – Basf, Bayer, Dow, Dupont, Monsanto e Syngenta – controlam centenas de outras menores. E agora elas têm adquirido não empresas de agrotóxicos, como era a lógica anterior, mas empresas de sementes. Então em pouco tempo elas terão toda a concentração de sementes. Isso é gravíssimo. Já foi um retrocesso a ruptura das sementes crioulas para as sementes híbridas, que tirou do agricultor familiar o grande poder de produzir a própria semente, elevando o custo da produção e tornando-o dependente. Agora a lógica é ainda mais perversa, com a semente transgênica. Essas sementes já vêm programadas para depender de venenos. Aí volta o ciclo da retomada do agrotóxico. Precisamos de uma política efetiva de banco de sementes, uma organização dos agricultores nessa linha, para não ficarmos reféns por décadas e décadas dessas multinacionais. Esse é o ponto, na minha opinião, mais importante para nossa atuação agora, tanto dos movimentos sociais, como da Frente Parlamentar. Estamos com a expectativa de a presidenta lançar em junho uma política nacional de agroecologia, antes da Rio+20, mas precisamos trabalhar melhor, para que não seja simplesmente um decreto, com várias iniciativas perdidas entre os ministérios. Essas políticas precisam estar articuladas. Esta tem sido a tarefa de alguns deputados do PT, reunidos no que chamamos de núcleo agrário. Nessa linha de enfrentamento do uso de agrotóxicos e também da nossa opção, da agroecologia, temos um conjunto de projetos de lei, que estaremos acompanhando.
Como o senhor vê a campanha “Veta, Dilma” e qual a possibilidade de a presidenta vetar o Código Florestal?
Para o mundo, se ela der um veto total, ela será muito aplaudida. Mas confesso que o veto total, nessa conjuntura, seria um equívoco. Acho que basta o veto parcial, para corrigir as distorções que tiverem numa linha favorável ao desmatamento, à impunidade. Porque o veto total traz uma insegurança para todos, inclusive para os pequenos, e pode dar um tempo para o agronegócio avançar no desmatamento. Acho que o veto parcial corrige bastante os problemas e coloca o país numa situação melhor que a atual.
Qual sua avaliação do governo PSDB em Minas Gerais e o que significaria uma candidatura de Aécio Neves à presidência?
O modelo do governo Aécio e Anastasia – que é o mesmo, o Anastasia era secretário importante do governo Aécio desde o início – está claro que é um modelo falido, um modelo perverso. Ele arrebenta com os servidores públicos, não garante que as políticas cheguem à ponta, vem sacrificando as prefeituras.
E a maioria dos prefeitos é omissa, conivente com esse governo que joga para suas costas as políticas e cobra pela atuação das empresas públicas, como Copasa, Emater, Cemig, Epamig. E com tudo isso o governo PSDB teve a capacidade de quadruplicar a dívida do estado nesses anos. Não dá pra entender esse choque de gestão: sacrifica todos e quadruplica a dívida. Fomos surpreendidos nesse mês com um Termo de Ajustamento de Gestão (TAG), feito pelo governo do Estado e pelo Tribunal de Contas, fazendo uma nova tabela para os investimentos na saúde e educação. O governo confessa que nunca investiu os 12% do orçamento na saúde e os 25% na educação. Ele faz uma tabela de previsão de gastos: em 2012, vai gastar 9,68% na saúde e 22,82% na educação. Em 2013 um pouco mais, e somente em 2014 vai investir os 12% na saúde e os 25% na educação, como reza a constituição. Esse TAG é uma coisa absurda, inconstitucional. Mostra que de fato o Estado está falido e mostra o desrespeito que eles têm para com a Assembleia Legislativa, com a Constituição, com o povo mineiro. Para qualquer brasileiro inteligente, o projeto de Aécio à presidência está falido, não se sustenta mais. A máscara rasgou. Não precisa ser analista político para chegar a essa conclusão, basta comparar como era no início dos anos 2000 com o que é hoje. Acho que a ficha do Aécio já caiu, porque ele está um zero à esquerda no Senado. Acredito que ele não vai ter a coragem de disponibilizar o seu nome para a Presidência.
http://www.brasildefato.com.br/node/9659
Enviado por Tania Pacheco:  http://racismoambiental.net.br/2012/05/precisamos-tensionar-para-avancar-na-politica-agroecologica/#.T8DV4VRD154.facebook